A entressafra deverá fazer o preço do feijão carioca aumentar até o fim deste mês no país e se estabilizar apenas em meados de maio, quando a segunda safra de Minas Gerais e do Paraná começar a chegar ao mercado. Teoricamente, o movimento frearia a demanda do consumidor final, mas não é o que tende a acontecer. A queda da renda da população e o temor com a inflação têm levado as pessoas a comprar mais feijão e a deixar de lado outras proteínas mais caras, como carnes e ovos.

A Horus, empresa de inteligência de mercado cujas análises são baseadas em dados que constam em cerca de 20 milhões de notas fiscais emitidas por mês, fez uma pesquisa a pedido do Valor que mostrou que a presença do feijão nos carrinhos dos supermercados espalhados por mil municípios do Brasil cresceu de forma expressiva em pouco mais de um ano.

Em março, o produto esteve presente em 9,9% das compras. No início de 2021, os percentuais foram de 6,9% em janeiro, 6,8% em fevereiro e 7% em março. E isso apesar da alta dos preços – que, de acordo com o IPCA, foi de 4,77% no caso do feijão carioca e de 3,05% do feijão preto em fevereiro de 2022 ante o mesmo mês do ano passado.

Diversificação dos tipos de feijão produzidos no Brasil pode se tornar um incentivo à ampliação das vendas ao exterior. O levantamento da Horus também aponta que, em média, a presença do item feijão nos carrinhos era de 2,1 (mais de dois pacotes) em fevereiro e 2,2 em março. Nos mesmos meses do ano passado, a média foi de 1,9.

Tentativa para dinheiro render

“Esse aumento no número médio de itens deve ser devido à volta das compras de mês, quando o consumidor se abastece em uma única ida ao supermercado, para fazer o dinheiro render mais. É um comportamento típico de períodos de inflação”, observa Luiza Zacharias, diretora de novos negócios da Horus.

Outra comparação que chama a atenção é com abril de 2021. Naquele mês, o feijão teve um pico de preços de R$ 8,32 o quilo, em média, no país e a incidência nos carrinhos foi de 7,4%, com média de 2 itens por compra. No Rio de Janeiro, grande consumidor da leguminosa, o valor chegou a R$ 11,28 o quilo e a incidência caiu para 6,8%, com média de 1,8 item por carrinho. “Isso mostra que a alta dos preços costuma frear o consumo, a não ser quando consumidor não encontra alternativa”, afirma Luiza.

Diversificação

Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), sempre afirma que o feijão é a proteína mais barata para os brasileiros, e que sua produção deveria ser incentivado por meio de programas oficiais, sistemas de irrigação e cultivo de variedades diferentes. “Os produtores não têm mercado internacional para vender o carioca, então seria importante ensinar o consumidor a comer o fradinho, o rajado, o preto, o caupi, o munge e o feijão branco, porque o excedente poderia ser exportável”, diz ele.

Essa diversificação também se refletiria nos preços. Neste momento, realça Lüders, a entressafra é de carioca, mas há feijão preto e caupi disponíveis. “O Brasil colhe apenas 18% da segunda safra de carioca agora em abril, por isso não tem essa variedade”.

O preço do feijão carioca ao produtor está atualmente entre R$ 350 e R$ 370 a saca, enquanto o preto sai em torno de R$ 300. No mesmo período de 2021, o produtor recebia R$ 271 pelo carioca e R$ 260 pelo feijão preto.

Safra

O Brasil tem três safras de cultivo da leguminosa por ano, e a área geral tem perdido espaço a cada ano. Em 2011/12, eram 1,5 milhão de hectares com o carioca. Em 2021/22, a Conab estima que as três safras da variedade terão 1,2 milhão de hectares, queda de 3,5% ante o ciclo passado e 20% abaixo do registrado há dez anos.

Com a soma de todas as variedades, a área é estimada em 2,9 milhões de hectares em 2021/22, 3,2% menos que no ciclo passado e 11% menor que em 2011/12.