Foto: Marcos Corrêa / PR

Ninguém quer ouvir falar de impeachment. Até mesmo os adversários do presidente Jair Bolsonaro sabem que mais uma ruptura institucional como a que aconteceu com Dilma Rousseff em 2016 poderia colocar o país num buraco ainda mais fundo que o atual. No entanto, ao invés de diminuir a tensão com o Congresso Nacional, o presidente da República insiste em criar caos em meio a um ambiente já intranquilo.

Depois de sugerir que o Brasil é “ingovernável”, Bolsonaro afirmou que o grande problema do país é a classe política – como se ele não fosse um dos protagonistas desse processo. A cada nova fala, o presidente da República afasta qualquer chance de diálogo republicano com os outros Poderes e isso só tem provocado a precarização das relações com o Congresso Nacional e, mais recentemente, com o Supremo Tribunal Federal.

Se antes havia certo receio da possibilidade de o Brasil mergulhar numa crise democrática, agora muitos políticos vislumbram como real a chance da ruptura dessa linha tênue que nos separa de países como a Venezuela, para pegar o exemplo mais clássico usado pelo bolsonarismo. As manifestações convocadas para o dia 26 de maio são a parte mais palpável da constante do caos pregada e defendida pelo presidente e por grande parte de seus asseclas.

Integrantes do governo querem utilizar a população como “massa de manobra” para pressionar o parlamento a votar uma reforma da Previdência questionável e para sugerir que o Congresso Nacional e o STF não merecem crédito – alguns loucos ainda sugerem a dissolução de ambos.

De passagem pela Bahia, onde discutiu o projeto da reforma previdenciária, o presidente da Comissão Especial, Marcelo Ramos (PL-AM), foi duro e certeiro ao falar sobre esses atos convocados no dia 26. Não há pé ou cabeça num ato pró-governo pressionar a Câmara dos Deputados a votar um projeto cujo governo não faz qualquer esforço para viabilizar politicamente a apreciação da matéria. É um tiro no pé, cujos contornos podem resultar no abalo definitivo daquilo que ainda fingimos ser equilíbrio entre os poderes.

O governador Rui Costa endossou, por exemplo, ser favorável a alterações na Previdência, mesmo que discorde dos moldes propostos pelo governo federal. Mas, em conversa com a imprensa, manifestou preocupação com o rompimento do respeito institucional pregado por Bolsonaro. É uma prova de que, independente do posicionamento político-partidário, tem muita gente imbuída em fazer a roda girar e tocar o país em frente.

Não dá para brincar de ser presidente da República. Já passou da hora de Bolsonaro parar com o discurso de que não nasceu para estar no Palácio do Planalto. E também está na hora de encerrarmos essa polarização constrangedora que transforma críticos do presidente em esquerdistas e apoiadores dele em direitistas.

Se for preciso um pacto nacional, que se faça. Só é preciso que seja o quanto antes, pois a qualquer momento pode não restar muito mais a se fazer para salvar o Brasil do naufrágio. Até porque muitos ratos já começaram a abandonar o barco… Este texto integra o comentário desta terça-feira (21) para a RBN Digital. Por Fernando Duarte