Tia do ajudante de pedreiro Edson Neri Barbosa dos Santos, 27 anos, suspeito de estuprar e matar a enteada Ágatha Sophia, 2, a cuidadora de idosos Railda Santos, 50, lamentou a morte da criança, ocorrida no último domingo (20), mas afirmou ter dúvidas em relação à acusação de que o sobrinho estuprou a menina antes de matá-la.

“Foi terrível o que aconteceu com a criança. Mas não acredito que ele (Edson) tenha feito isso. Convivi com ele e jamais deu qualquer indício de tamanha crueldade”, declarou a tia, numa conversa por telefone com o Correio, na manhã desta quarta-feira (23).

Segundo ela, Edson cuidou de outras crianças antes de Ágatha e nunca houve nenhum problema. “Se ele fosse o que estão dizendo, ele teria estuprado minha neta, minha sobrinha e também a filha de 3 anos da ex-mulher dele, pois cansava de reclamar com a mãe porque deixava a menina andando somente de calcinha. Ele tinha o maior cuidado com elas”, declarou a tia do ajudante de pedreiro.

Edson foi morto na noite de segunda (21) depois de ser capturado por homens que afirmaram ser integrantes da facção criminosa Bonde do Maluco (BDM). Em um vídeo, que circula nas redes sociais, é possível ver o ajudante de pedreiro amordaçado, sem roupa e com um ferimento na cabeça – ele era apontado pela Polícia Civil, que divulgou nome completo e foto, como o autor do estupro e morte da enteada. Ele estava sozinho com a criança em casa e a entregou à mãe para dar socorro.

Questionada sobre o fato de Edson ter entregue para a mãe a criança desfalecida, sem esclarecer realmente o que houve e ter fugido para não ser preso pela polícia, Railda ponderou em relação ao envolvimento do sobrinho no crime.

“Se ele tinha algo a revelar, como ele queria encontrar com a mãe, levou consigo, pois mataram ele. Quiseram fazer justiça com as próprias mãos. Acredito, devido às circunstâncias, que ele possa ter envolvimento de alguma forma no crime, tipo ameaçado para não falar nada, facilitou alguma coisa, mas estuprar e matar, não, não acredito”, declarou a tia.

Ela disse ainda que a mãe de Edson foi internada assim que soube da morte do filho. “Eu mesma fui falar com ela. Passou mal na hora e precisou ir para o Hospital Roberto Santos. Não sei se ela terá condições de ir ao enterro dele”, disse a tia. Edson será sepultado às 11h desta quinta-feira (24), no Cemitério Municipal de Pirajá, o mesmo onde foi enterrado nesta terça-feira (22) a pequena Ágatha Sophia.

A assessoria de comunicação da Polícia Civil informou que ainda não há pistas dos envolvidos na morte de Edson – no vídeo, em que o ajudante de pedreiro aparece sendo torturado são pelo menos três homens. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) disse que o prazo para a conclusão do laudo da causa morte de Ágatha Sophia é de 10 dias com possibilidade de prorrogação se houver necessidade de exames complementares – nessas condições, o laudo poderá sair em até 30 dias. O DPT não informou quais exames seriam realizados no corpo de Ágatha.

Mãe está com medo de ameaças
No enterro de Ágatha Sophia todos estavam presentes – tios, tias, primos, amigos das famílias – com exceção da mãe da menina, Jéssica Silva, 21. Durante o velório, parentes das duas famílias acusavam Jéssica de negligência – por ter deixado a criança sozinha com o padrasto. Temendo pela vida, Jéssica não compareceu ao enterro da filha. Ela passou a terça-feira na casa de uma das avós da criança em Fazenda Coutos, Subúrbio Ferroviário.

No entanto, precisou sair escoltada do local pela polícia. “Algumas pessoas souberam que estava aqui e queria linchar ela”, contou uma prima de Jéssica ao Correio. Diante das ameaças, a mãe de Ágatha Sophia está refugiada em um local e incomunicável, segundo a família. “Ela saiu às pressas com a polícia e não levou o celular”, disse um outro primo.

Abuso sexual
Ágatha deu entrada na UPA de São Marcos, no domingo, na companhia da mãe e já sem sinais vitais. Uma equipe de médicos que estava de plantão realizou procedimentos a fim de reanimá-la, mas a menina já estava morta, segundo a assessoria de comunicação da Secretaria da Saúde de Salvador (SMS).

Parentes afirmavam que médicos da unidade os alertaram sobre a possibilidade da menina ter sido abusada sexualmente antes de sofrer uma parada cardiorrespiratória – o que teria sido a causa da sua morte. “A SMS esclarece que não realiza investigação da causa da morte, procedimento de anuência do IML, local para onde o corpo foi encaminhado”, disse em nota. Ágatha morava em uma casa sem reboco com a mãe e o padrasto, na Rua José Gomes de Aguiar, no bairro de Vila Canária, em Salvador. (Correio da Bahia)