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O organismo debilitado pela covid-19, infecção causada pelo coronavírus e suas variantes, deixa o paciente vulnerável ao oportunismo de outras doenças como a mucormicose, mais conhecida como ‘fungo negro’. Recentemente, a enfermidade passou a ser relacionada ao vírus desde que 9 mil pessoas na Índia desenvolveram o problema. A Bahia já tem o seu primeiro registro, na cidade de Baianópolis, segundo informa o Ministério da Saúde (MS), que até a quinta-feira (17), havia identificado no Brasil, 50 casos envolvendo o fungo em 2021. O volume já é maior que o ano passado inteiro que teve, ao todo, 36 casos. A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), no entanto, nega a ocorrência do caso em território baiano.

A notificação do MS foi enviada ao Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) e confirmada pelo exame histopatologico. Das 50 ocorrências listadas pela pasta federal, 19 aconteceram após os pacientes contraírem o coronavírus e apresentarem alguma comorbidade, principalmente a diabetes. O número mais recente é 72% maior do que há 15 dias, quando o órgão divulgou, no início de junho, 29 casos reconhecidos e apenas quatro com ocorrências associadas. No entanto, os episódios confirmados no Brasil, não têm relação comprovada com as variantes do Sars-CoV 2.

Ainda de acordo com dados do Ministério da Saúde, levantados a pedido da reportagem do CORREIO, além do caso baiano, os registros da doença aconteceram nos estados do Amazonas (01), Goiás (03), Ceará (01), Mato Grosso do Sul (02), Pará (01), Pernambuco (01), Rio de Janeiro (01), Rio Grande do Norte (01), Rio Grande do Sul (02), Santa Catarina (02) e São Paulo (03).

Com base nas informações da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em um alerta epidemiológico publicado no dia 11 de junho sobre a associação da mucormicose à covid-19, mesmo que se trate de uma infecção rara, a taxa de fatalidade é estimada em 40-80%. Um fator de risco é o diabetes mellitus que, não por coincidência, é também um motivo para o agravamento da doença causada pelo coronavírus, como destaca o professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP), Plínio Trabasso.

A esse grupo, se somam pessoas com síndrome da imunodeficiência adquirida (HIV/AIDS), imunossupressão, pacientes com câncer e transplantados. A situação epidemiológica acabou adicionando à lista, inclusive, os pacientes que tiveram covid-19.

“Temos aí duas doenças potencializadas pela diabetes, acrescido do fato de que a covid-19 causa um intenso desequilíbrio no sistema imune, o quê, por sua vez, intensifica a chance da mucormicose se desenvolver, diante da ‘cascata inflamatória’ provocada pelo coronavírus. É uma doença devastadora”, pontua Trabasso.

Fungo oportunista  
Provocada por micro-organismos do grupo Mucorales (entre eles, as espécies Rhizopus, Rhizomucor e Mucor), a principal característica da mucormicose é a necrose e a morte dos tecidos atingidos, o que leva essas partes a apresentarem uma coloração escura. Há chances de que a infecção possa evoluir para o cérebro ou se espalhar pela corrente sanguínea, atingindo outros órgãos. A doença não é contagiosa, ou seja, não transmite de uma pessoa para a outra e sempre existiu, independente da covid.

Na verdade, o fungo circula entre nós desde o final do século 19, quando foi identificado. O nosso organismo é capaz de combater sozinho o fungo, desde que não esteja imunodeprimido, com um quadro descontrolado de diabetes ou faça uso contínuo e de altas doses de remédios da classe dos corticóides.

As manifestações dos sintomas variam de acordo com a área do corpo, mas incluem edema facial, febre, úlceras na pele e lesões pretas. Ela se apresenta, principalmente, de quatro formas: a rinocerebral (olhos, nariz e boca), pulmonar (pulmão), cutânea (pele) e gastrointestinal (sistema digestivo). Em geral, os fungos estão presentes na matéria orgânica em decomposição, entre eles, madeira, frutas e outros vegetais, por exemplo.

A infecção ocorre por inalação dos esporos (estruturas reprodutoras) do mofo ou contato com alimentos contaminados. Mesmo mortal, a mucormicose tem tratamento medicamentoso com custo de quase meio milhão e envolve ainda cirurgias, que, conforme a gravidade, chegam a mutilar o paciente.

“A dose do medicamento é de 5mg/kg por dia. Então uma pessoa de 60 quilos vai usar 300mg/d. Cada frasco do medicamento tem 50 mg. Deste modo, essa pessoa vai usar seis frascos por dia e cada um custa entre R$ 2 mil a R$ 2,5 mil, ou seja, o gasto diário vai ser entre R$ 12 mil a R$ 15 mil. Não existe um tempo máximo de necessidade de uso da medicação, depende muito da evolução clínica do paciente, logo, é um custo que pode ultrapassar os R$ 450 mil por pessoa”, estima Trabasso.

MUCORMICOSE: VEJA 3 FATOS IMPORTANTES SOBRE A INFECÇÃO

O que é  
A mucormicose, mais conhecida como ‘fungo negro’, é uma infecção não contagiosa, causada por microorganismos do grupo Mucorales, como as espécies Rhizopus, Rhizomucor e Mucor.  A principal característica da doença é a necrose e a morte dos tecidos atingidos, o que pode acontecer em diversas partes do corpo, como face, pulmão, pele e trato intestinal, por exemplo.

Qual a relação com a covid-19?  
Por ser um fungo oportunista, que se aproveita do organismo com a imunidade debilitada, os casos registrados recentemente no Brasil estão associados a pacientes que contraíram o coronavírus e apresentaram comorbidade, principalmente diabetes.  A doença, no entanto, já existe desde o século 19, independente da covid-19. O que acontece é que a infecção pelo Sars-CoV-2 causa grande desequilíbrio no sistema imune, favorecendo a imunodepressão que o fungo precisa para se instalar no corpo..

Em que estados do país já foram registrados novos casos esse ano?   
Segundo o Ministério da Saúde, até a quinta-feira (17), o Brasil tinha registrado 50 casos de mucormicose esse ano. Destes, 19 associados à covid-19. Os registros da doença ocorreram nos estados da Bahia (01), Amazonas (01), Goiás (03), Ceará (01), Mato Grosso do Sul (02), Pará (01), Pernambuco (01), Rio de Janeiro (01), Rio Grande do Norte (01), Rio Grande do Sul (02), Santa Catarina (02) e São Paulo (03). (Correio da Bahia)