Foto : Rosinei Coutinho/SCO/STF

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou que ver grandes indícios de crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro (Sem partido), com base nas declarações do agora ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. O ex-juiz federal acusou o presidente de interferir politicamente no trabalho da Polícia Federal e se demitiu do cargo no ministério após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Na avaliação de Santa Cruz, o caso tem que ser investigado pelo Poder Legislativo, mas a OAB também se pronunciará sobre o tema.

“Trata de possível participação do presidente em obstrução de investigações contra pessoas ligadas a ele, inclusive familiares, e na busca de interferência do presidente na nomeação do delegado que faz papel de diretor-geral da PF, também para perseguição de inimigos como alguns documentos já começam a mostrar. Esses fatos precisam ser apurados. Ainda acho que a esfera correta para apuração disso seria uma CPMI [Comissão Parlamentar Mista de Inquérito]. Cabe à liderança do Congresso Nacional esse processo, não ao Judiciário, em minha leitura. Mas nós da OAB faremos, através da Comissão de Estudos Constitucionais”, disse o presidente da OAB, em entrevista a Mário Kertész na Rádio Metrópole ontem (27).

“É a comissão mais forte de nossa entidade. Nós vamos, através da presidência da comissão, elaborar um parecer que sirva de elementos a esse quadro. Que é gravíssimo sim. É de crise institucional e grave o que foi relatado pelo ministro Moro”, acrescentou.  Alvo de Bolsonaro desde que assumiu o órgão, Santa Cruz lamentou as tendências autoritárias do governo. Em julho do ano passado, o presidente atacou o representante da OAB ao falar sobre seu pai, desaparecido político no período da ditadura militar. Na ocasião, o chefe do Executivo disse que contaria como que o pai dele desapareceu no período militar.

“É muito triste descobrir uma parcela dos nossos irmãos conterrâneos partilhando valores como egoísmo, morte e exploração do homem pelo homem. É uma coisa muito mais profunda, acontecendo no Brasil e no mundo. Mas tratando-se do Brasil, que é mundialmente visto como um caso limite, juntamente com a Hungria, onde esse projeto de atraso esteja mais claro e radicalizado. Nós temos um momento que beira o caos”, declarou Felipe Santa Cruz.

“O presidente da República não tem nenhum tipo de compromisso com a governança, não se preocupa efetivamente com entregar ao povo brasileiro promessas ou resultados. A agenda do presidente em seu grupo mais próximo é, em meio à Covid-19, acúmulo de poder e olhar 2022 e afastar os inimigos, pretensos ou os que são inimigos na cabeça da presidência da República”, acrescentou.

Ainda segundo o presidente da OAB, Bolsonaro não possui um projeto de governo e só pensa em manter o poder, promovendo a troca de ministros que se destacam mais do que ele no governo federal. “O presidente vem reduzindo a dependência de quadros populares no governo dele. Ele vem tirando aqueles que têm popularidade e podem, de alguma forma, prejudicar seu projeto. Vem ocupando esses cargos estratégicos com pessoas como o nome que ele tá indicando à Polícia Federal foi chefe de segurança”, afirmou, citando a provável nomeação de Alexandre Ramagem, amigo dos filhos do presidente, para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal.

“O possível ministro da Justiça, muito afável e educado, conheço de Brasília, mas é um assessor parlamentar, tem seis processos publicados no nome dele. Não é advogado, foi major da PM a maior parte da vida. Ele vem ocupando esses espaços com uma visão de aparelhamento do estado”, afirmou, em referência a Jorge Olivera, homem de confiança da família Bolsonaro e atual secretário-geral da Presidência da República. Metro1