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Um levantamento divulgado nesta quinta-feira (4), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que, apesar de serem pouco mais da metade da população baiana (51,6% dos 14,9 milhões de habitantes), em 2019, as mulheres ocupavam pouco mais de um terço dos cargos gerenciais (36,2%) nos locais de trabalho.

Os dados fazem parte da segunda edição da pesquisa “Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil”. O estudo busca enriquecer o debate, com informações destacadas sobre o tema, e reforçar a importância de manter uma agenda pública permanente que coloque a igualdade de gênero como um dos eixos estruturantes da formulação de políticas públicas no país.

A pesquisa destaca a Bahia como 9ª colocada na lista dos estados brasileiros com menor participação de mulheres em cargos de gerência, e mais baixa do Nordeste. O ente federativo com a menor taxa de participação é o Mato Grosso, com 30,6%; enquanto o estado com maior participação de mulheres em cargos de chefia é o Piauí, com 53%, único estado onde a maioria das pessoas em cargos de chefia é mulher.

Tabela do IBGE com distribuição dos cargos de gerência por sexo — Foto: Divulgação/IBGE

Com relação a ocupação de postos de trabalho em geral, a presença feminina também é menor do que a masculina na Bahia. Em 2019 as mulheres, ocupavam 43,0% dos cerca de 5,8 milhões de postos de trabalho. Ainda que modesto, o percentual de cargos gerenciais ocupados por mulheres na Bahia cresceu em relação a 2018 (quando era de 35,9%) e em relação a 2012 (33,9%), ano inicial da série histórica disponibilizada pelo IBGE. O pico de presença feminina em cargos de chefia, no estado, ocorreu em 2016, quando 45,2% eram ocupados por mulheres.

Representatividade em cargos políticos

Outro indicador da pesquisa que mostra a limitada participação feminina em espaços de poder na vida pública é o percentual de deputadas federais em exercício, em 2020. Segundo o levantamento do IBGE, a Bahia tinha apenas três das suas 39 cadeiras na Câmara dos Deputados (7,7%) ocupadas por mulheres. Era o 5º menor percentual entre os 24 estados que tinham ao menos uma mulher como parlamentar e cerca de metade da proporção verificada no Brasil como um todo.

Em 2020, 14,8% dos deputados federais em exercício no país eram mulheres (76 de 513). A participação brasileira era a menor da América do Sul e a 142ª em um ranking de 190 países que informaram esses dados à Inter-Parliamentary Union (União Interparlamentar ou IPU, na sigla em inglês).

Entre os estados brasileiros, Amazonas, Maranhão e Sergipe não tinham nenhuma representação feminina na Câmara dos Deputados. No outro extremo, com as maiores participações de mulheres no Legislativo federal, estavam o Distrito Federal e o Acre, cada um com metade dos parlamentares mulheres (4 de 8 em ambos os casos). Rio de Janeiro e São Paulo, com 10 deputadas federais cada um, lideravam em números absolutos.

O estudo ainda destacou a discrepância entre mulheres candidatas e mulheres eleitas. Nas eleições de 2018, elas foram quase um terço das pessoas que concorreram à Câmara dos Deputados pela Bahia (164 dos 503 candidatos). Foi o 16º percentual entre as 27 unidade da federação, bem próximo do registrado no Brasil como um todo (32,2% de candidaturas femininas) e quase no limite da lei que determina uma cota mínima de 30% de candidaturas por sexo. Ainda assim, o percentual de candidatas foi bastante superior ao de eleitas.

Segundo o levantamento do IBGE, o descompasso entre a proporção de candidatas e deputadas em exercício pode ser atribuído, segundo estudos eleitorais, a fatores como a falta de apoio material às candidaturas femininas e o maior sucesso eleitoral dos candidatos que já eram parlamentares anteriormente.

A sub-representação feminina não era muito menor nos legislativos municipais. Em 2020, só 13,2% dos vereadores eleitos na Bahia foram mulheres (592 de 4.477 em todo o estado). O estado teve o 4º menor percentual de vereadoras do país.

Nacionalmente, no ano passado, 16% das cadeiras nas Câmaras Municipais ficaram com mulheres (9.106 de 56.896 vereadores eleitos em todo o Brasil). Rio Grande do Norte (21,8%), Acre (20,8%) e Piauí (20,1%) tiveram os maiores percentuais, enquanto Rio de Janeiro (9,8%), Espírito Santo (9,9%) e Rondônia (11,5%) foram os únicos estados com menores proporções que a Bahia.

Taxa de desemprego

Tabela do IBGE com taxa de desocupação em 2019 — Foto: Divulgação/IBGE

Na Bahia, a taxa de desemprego feminina (19,6%) segue bem maior que a masculina (13,3%) e atinge pico entre mulheres pretas ou pardas (20,4%).

Em 2019, na Bahia, a taxa de desocupação (proporção de pessoas procurando trabalho, ou desocupadas, entre aquelas que estavam trabalhando ou procurando) ficou em 17,2%, a segunda maior do país. Foi a segunda maior também para ambos os sexos considerados separadamente, mas com uma importante diferença de patamar: ficou em 13,3% para os homens e 19,6% para as mulheres.

Essa também foi a realidade nacional, com desocupação de 14,1% para as mulheres e 9,6% para os homens, em todos os 27 estados. A diferença entre as taxas na Bahia (6,3 pontos percentuais a mais para as mulheres) foi a 6ª maior do país e a 2ª maior do Nordeste, abaixo apenas de Sergipe (19,2% para as mulheres e 12,3% para os homens).

Mesmo entre as mulheres, contudo, há uma desigualdade significativa nesse indicador, que coloca aquelas declaradas pretas ou pardas com as maiores taxas de desocupação em todos o estados brasileiros. Na Bahia, em 2019, a taxa de desocupação das mulheres brancas ficou em 15,9%, frente a 20,4% entre as mulheres pardas ou pretas – ou seja 1 em cada 5 mulheres pretas ou pardas que estavam na força de trabalho estavam procurando uma ocupação e não encontravam.

A taxa de desocupação das mulheres pretas ou pardas na Bahia (20,4%) era maior que a verificada no Brasil como um todo (16,8% frente a 11,0% entre as mulheres brancas)e a 4ª maior entre os estados, abaixo do Rio de Janeiro (21,5%), Amapá (20,9%) e Sergipe (20,7%).

Já a diferença em relação à taxa das mulheres brancas no estado (4,5 pontos percentuais), embora bastante significativa, era menor que a do país como um todo (mais 5,8 pontos percentuais na desocupação de mulheres pretas ou pardas) e apenas a 16a entre as 27 unidades da Federação, num ranking liderado por Sergipe (7,8 pontos percentuais), Rio Grande do Norte (7,4 pontos percentuais) e Mato Grosso (7,4 pontos percentuais).

O IBGE destacou que o maior envolvimento das mulheres em tarefas não remuneradas, ou seja, nos afazeres domésticos, é um dos fatores que explicam a menor participação das mulheres no mercado de trabalho.

Em 2019, na Bahia, as mulheres dedicavam mais que o dobro de tempo dos homens aos afazeres domésticos e cuidados com pessoas. Elas despendiam 20,9 horas semanais nesse trabalho não remunerado, enquanto eles despendiam, em média, 9,9 horas semanais (11,1 horas a mais para as mulheres).

No Brasil como um todo, a desigualdade é bem parecida. Em 2019, as mulheres dedicavam, em média, 21,4 horas semanais aos afazeres e cuidados, enquanto os homens dedicavam 11,0 horas (10,4 horas semanais a mais para elas). As maiores diferenças estavam na Paraíba (mais 13,3 horas semanais para as mulheres), Sergipe (mais 12,4 horas para as mulheres) e Minas Gerais (mais 12,2 horas semanais). A Bahia ficou em 10º lugar.

O estudo tem como base o Conjunto Mínimo de Indicadores de Gênero (CMIG), definido pelo Grupo Interinstitucional de Peritos em Estatísticas de Gênero (Inter-Agency and Expert Group on Gender Statistics – IAEG-GS), e usa dados de pesquisas do próprio IBGE e de outras fontes oficiais. G1