EC Vitória

Os torcedores do Vitória ficaram assustados com a informação de que o clube pode perder seis pontos na Série B por causa de uma dívida referente à contratação do atacante Walter Bou, ainda na gestão do ex-presidente Ricardo David, no ano de 2018. O assunto veio à tona em um áudio enviado por Paulo Carneiro, atual presidente rubro-negro, em um grupo com torcedores. São duas situações diferentes envolvendo a contratação do atacante argentino.

A primeira e mais preocupante: o Vitória deve ao Boca Juniors, da Argentina, 347 mil dólares, o que corresponde a cerca de R$ 2 milhões na cotação atual, e esse valor precisa ser quitado de forma breve. A segunda é uma ação trabalhista movida por Walter Bou contra o clube baiano, cobrando R$ 620 mil. Sobre esse processo, ainda não há uma definição.

A dívida com o Boca, de fato, pode levar o Vitória a perder seis pontos no Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão. Entretanto, o clube sofreria antes uma punição “mais branda” caso não consiga quitar a dívida, que é a proibição de realizar contratações.

O diretor jurídico do clube, Dilson Pereira, explicou a situação. “A situação está na Fifa. O Vitória realmente pode ser apenado com a perda de pontos, mas há uma gradação de penas. O Vitória pode sofrer uma pena mais leve antes – mais leve entre aspas –, que seria a proibição de contratar jogadores. Persistindo o inadimplemento, também sofrer uma nova penalidade, uma agravação da pena, com a perda de pontos no campeonato nacional – afirmou”.

Quando contratou Walter Bou por empréstimo por uma temporada, o Vitória ficou devendo ao Boca Juniors um valor de 160 mil dólares. Caso não cumprisse o acordo, como aconteceu, pagaria multa de mais 150 mil. Quando Paulo Carneiro assumiu o clube, o Vitória foi notificado pelo Boca sobre a dívida e passou, então, a discutir se a multa era válida. O jurídico rubro-negro levou a questão à justiça e foi derrotado.

Hoje, o Rubro-Negro tenta negociar os termos do pagamento com os argentinos, mas a relação entre os clubes está estremecida, como explica Dilson Pereira.

– O Vitória está em trâmite junto ao Boca para tentar verificar uma composição, que é um pouco difícil nesse momento, porque o Boca tem uma situação jurídica bem privilegiada e não aceita um parcelamento como o Vitória quer. Ele está exigindo à vista ou parcelar em pouquíssimas vezes, dado que há um estremecimento na relação entre os clubes, porque houve um descumprimento inicial do Vitória – disse.

O Vitória renegociou isso com o Boca, ainda na época de Ricardo David, e depois descumpriu. Isso gera um estranhamento entre as partes. O latino-americano costuma dar uma primeira oportunidade e não dá uma segunda. Ele acha bastante desrespeitoso conceder uma oportunidade de renegociar e haver um descumprimento.

A situação do Vitória é semelhante à do Cruzeiro, que terá que iniciar a Série B com seis pontos a menos por não ter quitado uma dívida com o Al Wahda pelo empréstimo do volante Denilson. O clube mineiro não realizou o pagamento na data estabelecida pela Fifa e foi punido pela entidade máxima que rege o esporte.

– O Cruzeiro devia R$ 50 milhões na Fifa. Tem diversos processos lá. Ele já tinha sido apenado antes coma proibição de contratar e depois aconteceu a perda de pontos. O Vitória está no processo parecido. Vai ter a pena e depois pode ela pode ser agravada, caso a situação não seja resolvida – explicou Dilson.

Questionado pela reportagem se a Fifa já havia estabelecido um prazo para que o Vitória realize a ordem de pagamento ao Boca Juniors, Dilson Pereira respondeu que sim. “Já houve uma situação, esse início do prazo. A gente está em negociação com o Boca para verificar quando vamos fazer esse pagamento” – disse.

Mesmo se foi excedido o prazo, como há essa tentativa de pagamento pelo Vitória, por ora, a situação ainda não chegou ao ponto de o Vitória sofrer penalidades. O Vitória ainda não sofreu penalidades. Se vier a sofrer, é de acordo com a gradação.

Para que o Vitória consiga arcar com o que deve aos argentinos, é imprescindível o retorno das competições paralisadas pela pandemia do coronavírus, pois só com o bônus das premiações por avançar de fase será possível realizar o pagamento.

– A gente está captando recursos. O ideal para o Vitória é a retomada das competições. Se as competições estivessem sendo disputadas, a gente teria condições, porque o Vitória tem bônus pelo sucesso. Com esse bônus, o Vitória faria frente a essa situação que está na Fifa. Eu acredito que a gente vai ter condições nos próximos dias… A gente está tentando resolver essa situação, buscando a redução do valor da dívida para, com isso, ir amortizando até a quitação, que deve ocorrer o quanto antes, sendo o cenário mais favorável, o reinício das competições. E que a gente passe de fase – afirmou Dilson Pereira.

Dilson também explicou como está a ação movida por Walter Bou contra o Vitória. “Tem outro processo na Fifa referente ao Walter Bou, por dívida trabalhista. O pedido é na ordem de R$ 620 mil, mas ainda não há uma decisão sobre esse processo. A expectativa é de que ele saia da jurisdição da Fifa e retorne para o Brasil, porque as partes pactuaram a cláusula de que, havendo litígio, ele seria resolvido pela justiça brasileira” – afirmou. Globoesporte