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Diante desse calorão pelo Brasil, que não dá trégua nem mesmo durante a noite, o desafio de garantir um sono restaurador fica ainda vez mais difícil, especialmente para quem não conta com a comodidade de um bom ar-condicionado. Mas, fisiologicamente falando, por que é tão difícil dormir quando as noites são tão quentes quanto os dias? O que de fato acontece com o nosso corpo que nos dificulta a pegar no sono?

De forma resumida, dá para dizer que a chave para esse quebra-cabeça do sono está na vasodilatação e nos extremos de temperatura, dois fenômenos diretamente ligados aos mecanismos de proteção do nosso corpo. Nosso organismo dificulta o adormecimento em temperaturas extremas, acionando um estado de alerta no cérebro, impedindo a transição para o estado de tranquilidade característico do sono.

Calor = alerta para o corpo

Leticia Azevedo Soster, neurologista e médica do sono do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o sono é uma fase de relaxamento do nosso corpo. Assim, para que esse relaxamento aconteça, é crucial que o nosso organismo se sinta seguro e protegido, evitando vulnerabilidades.

Em condições de extremos de temperatura, como o calor excessivo e o frio extremo, o organismo ativa então mecanismos de defesa, dificultando o adormecimento. Uma adaptação evolutiva visa manter o corpo em estado de alerta diante de potenciais ameaças ambientais.

“A gente chama isso de essência comportamental, que é aquele comportamento tranquilo que caracteriza o sono. Para isso, a gente precisa estar numa situação em que o nosso corpo, e principalmente o nosso cérebro, se sinta protegido”, diz Soster.

E um fator importante para isso é a chamada vasodilatação, que é quando os nossos vasos sanguíneos se abrem, permitindo mais fluxo de sangue e nutrientes e reduzindo a pressão arterial. Em resumo, a vasodilatação acontece em consequência ao aumento de temperatura, assim como o oposto acontece quando a gente reduz a temperatura: a vasoconstrição, a diminuição do diâmetro dos vasos.

E esse processo todo impacta as funções cerebrais, prejudicando a capacidade de adormecer em condições extremas de calor. Assim, a vasodilatação cria uma relativa vulnerabilidade cerebral, dificultando também o início do sono. Como uma estratégia protetiva, o corpo se mantém em estado de alerta, tornando mais desafiador iniciar e aprofundar o sono em situações extremas.

“E tudo isso interfere também na fragmentação do sono. Ou seja, quer dizer que o sono fica mais entrecortado e isso pode refletir num dia pior para a pessoa, fazendo com que ela sofra mais por conta de cansaço e fadiga diurna”, acrescenta Danilo Sguilar, Otorrinolaringologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

O que fazer então?

Alan Luiz Eckeli, professor de neurologia e medicina do sono na FMRP-USP, destaca que a diminuição da temperatura central do corpo (0,5ºC a 0,8ºC) atua como um Zeitgeber (do alemão, zeit, que quer dizer “tempo” e geber ,”doador”), um sinal essencial para regular nosso ciclo sono-vigília, influenciando a produção de melatonina e contribuindo para um sono de melhor qualidade.

“Como a vasodilatação é fundamental nesse processo de perda de calor, qualquer obstáculo a esse canal pode prejudicar a qualidade do sono, resultando em impactos noturnos e diurnos”, explica. Dito tudo isto, fica claro que ajustar a temperatura ambiente e a corporal é crucial para facilitar o sono em noites quentes. Por isso, os especialistas ouvidos separaram algumas dicas que podem contribuir para iniciar o processo de sono nesse tempo. Veja-as abaixo e a explicação para cada uma delas:

  • Dormir com janelas abertas, arejando o ambiente: isso favorece a circulação do ar, mantendo o local fresco.
  • Utilizar roupas e roupas de cama adequadas e leves: isso evita o aumento excessivo da temperatura corporal, proporcionando conforto durante o sono.
  • Tomar um banho mais frio antes de deitar: algo que também ajuda a reduzir a temperatura do corpo, facilitando a transição para o sono. “Se a gente adormecer com o corpo um pouquinho mais frio, após um banho frio, por exemplo, já vai facilitar ao corpo não elevar tanto a temperatura e conseguir fazer sua ciclagem de temperatura, que é a fisiologia natural”, destaca Soster.
  • Beber bastante água: manter-se hidratado é essencial para o funcionamento adequado do organismo durante o sono.
  • Aplicar soro fisiológico no nariz: contribui para a hidratação da mucosa nasal. “E isso pode facilitar a respiração e fazer com que a pessoa melhore esse processo de iniciar o sono”, destaca Sguilar.
  • Escolher o momento mais agradável para adormecer: aproveitar o período mais ameno contribui para iniciar o sono de forma mais tranquila.
  • Criar um ambiente pouco iluminado e pouco ruidoso: isso organiza melhor o início do sono e favorece a produção de melatonina.

Outras dicas para enfrentar o tempo seco de forma geral

  • Beba bastante água (cerca de dois litros por dia ou 10 copos de água de 200 ml). Ela hidrata todos os órgãos, inclusive pele e mucosa.
  • Hidrate bem as mucosas com soro fisiológico – pelo menos duas vezes ao dia.
  • Lave os olhos com soro fisiológico ou com colírio de lágrima artificial.
  • Cuidado com bebidas alcoólicas. Elas podem refrescar, mas também desidratam.
  • Mantenha a casa limpa, evitando o acúmulo de poeira.
  • Evite praticar exercícios físicos das 11h às 17h.
  • Proteja-se ao máximo do sol e evite o ressecamento das mucosas e pele.

Caso a pessoa apresente tosse intensa, aumento de catarro, chiado e falta de ar, é recomendável procurar atendimento médico. G1