As eleições deste ano foram marcadas por desinformação, em grande parte impulsionada nas redes sociais. Esta é a avaliação de analistas ouvidos pelo jornal Estadão Conteúdo. O Projeto Comprova, consórcio de 24 veículos brasileiros do qual o Estadão fez parte, verificou 147 boatos recebidos durante pouco mais de dois meses de eleição no país. Destes, a esmagadora maioria (91,8%) se mostrou falsa.

 

O volume de desinformação surpreendeu Claire Wardle, diretora do First Draft, organização internacional que deu origem ao Comprova que trabalha entre vários veículos de comunicação. Ela já havia trabalhado com o fenômeno nas eleições presidenciais da França, e agora tem projetos de atuar nos pleitos na Nigéria, Indonésia, Índia, Argentina e Uruguai.

 

“Minha impressão é que, definitivamente, havia mais desinformação no cenário brasileiro. Na França, recebemos 660 mensagens do público em nosso site, e no Brasil foram 67 mil mensagens no WhatsApp”, afirmou Claire Wardle. O trabalho dos “checadores” na imprensa começou há alguns anos, em alguns veículos pontuais. Mas, segundo o editor do projeto, Sérgio Lüdtke, se estabeleceu como um fenômeno essencial para o jornalismo.

 

Isso porque, explica, a amplitude e o fluxo que a desinformação atingiu com as redes sociais foram enormes neste ano e não devem diminuir. A maior parte dos rumores checados pelo Comprova era a respeito da chapa petista – o candidato à Presidência Fernando Haddad e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram personagens de 41,9% das verificações publicadas ao longo do primeiro e segundo turnos. O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), também protagonizou muitos rumores na internet – 36% das checagens do Comprova foram sobre ele.