Agência Brasil

Na Bahia, se o valor dos benefícios recebidos por meio dos diversos programas sociais fosse retirado do rendimento domiciliar per capita total, o número e a proporção de pessoas abaixo da linha de pobreza aumentaria em todos os anos. Entretanto, em 2020, esse efeito teria sido muito maior, elevando a proporção de pobres de 37,5% a pouco mais da metade da população: 51,2% ou 7,639 milhões de pessoas. Em outras palavras, os programas sociais foram responsáveis por evitar que 2,046 milhões de pessoas na Bahia ficassem abaixo da linha de pobreza monetária,
no ano passado.

Sem os benefícios dos programas sociais, em 2020 o rendimento domiciliar per capita médio na Bahia teria sido 12,7% menor do que efetivamente foi. Ele ficou em R$ 947 e, se os programas sociais fossem retirados do total, cairia para R$ 827. As perdas teriam sido ainda maiores justamente nos grupos que tradicionalmente têm rendas domiciliares per capita mais baixas e, portanto, foram mais impactados positivamente pelas transferências de renda.

As mulheres teriam rendimento médio 13,2% menor sem os programas sociais, e as pessoas de cor preta ou parda teriam rendimento médio domiciliar per capital 14,8% menor. Apesar da redução na incidência de pobreza monetária, em 2020 a Bahia seguia com o segundo maior número absoluto de pessoas pobres (5,6 milhões), abaixo apenas de São Paulo (6,6 milhões) e a 11ª maior proporção entre os 27 estados.

Número de pessoas na extrema pobreza teria  o dobro: 3,7 milhões frente a 1,5 milhão
O impacto positivo dos programas sociais foi ainda maior entre as pessoas abaixo da linha de extrema pobreza. Sem esses benefícios, em 2020, o número de extremamente pobres na Bahia teria sido pouco mais que o dobro do verificado. No ano passado, 9,9% da população baiana estavam abaixo da linha de extrema pobreza monetária. Isso significa 1,477 milhão de pessoas vivendo com um rendimento domiciliar médio per capita inferior a R$ 148 por mês.

O valor corresponde a US$ 1,90 por dia em em paridade de poder de compra (PPC), fixado pelo Banco Mundial como critério de extrema pobreza. Frente a 2019, o número de extremamente pobres na Bahia caiu 22,9%, o que representou menos 438 mil pessoas nessa situação, em um ano. Foi a maior diminuição absoluta no contingente de extremamente pobres desde o início da série histórica, em 2012, e a segunda queda percentual mais intensa nesses nove anos – inferior apenas à verificada entre 2013 e 2014 (-23,0%).

O número de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza em 2020 (1,477 milhão) foi o menor para o estado em cinco anos, desde 2015, quando havia 1,381 milhão de extremamente pobres na Bahia. No Brasil como um todo também houve uma expressiva queda desse contingente (- 15,5% ou menos 2,216 milhões) chegando a 12,046 milhões de extremamente pobres em 2020.

Esse grupo se reduziu em 18 das 27 unidades da Federação. A Bahia (-438 mil) teve o segundo maior recuo absoluto, abaixo apenas do Maranhão (-477 mil pessoas extremamente pobres e um ano). Ainda assim, o estado manteve, em 2020, o maior número de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza no país (1,477 milhão), posto que ocupada desde o início da série histórica da PNAD Contínua, em 2012. Em termos percentuais, a Bahia ficava em 6º lugar (era o 8º em 2019, ou seja, piorou no ranking).

Assim como ocorre em relação à linha de pobreza, retirando-se os programas sociais do valor total do rendimento domiciliar per capita, há um aumento do número de extremamente pobres na Bahia em todos os anos. Em 2020, porém, esse contingente seria mais que o dobro do que foi efetivamente verificado: uma em cada quatro pessoas estariam abaixo da linha de extrema pobreza monetária no estado, isto é, 25,2% da população ou 3,753 milhões de pessoas. Ou seja, os benefícios dos programas sociais evitaram que 2,276 milhões de pessoas vivessem abaixo da linha de extrema pobreza na Bahia, em 2020.

Salvador passou a ser a capital com maior proporção de extremamente pobres
Embora a análise dos rendimentos domiciliares per capita sem o efeito dos benefícios de programas sociais não tenha sido feita para as capitais, a evolução da população abaixo das linhas de pobreza e extrema pobreza monetária em Salvador, no ano passado, sugere que o impacto positivo dessas transferências de renda no município não foi tão importante quanto no estado como um todo.

Em 2020, 22,3% dos moradores da capital baiana estavam abaixo da linha de pobreza, o que significa que 643 mil pessoas viviam com rendimento domiciliar per capita inferior a R$ 443 por mês. Esse número praticamente não se alterou em relação a 2019, quando 642 mil pessoas estavam nessa situação em Salvador (22,4% da população naquele ano).

Diferentemente do que ocorreu nos estados, entre 2019 e 2020, o número de pessoas abaixo da linha de pobreza cresceu em 16 das 27 capitais. Salvador teve o menor aumento. No ano passado, o município se manteve com o 5º maior número absoluto de pobres e tinha o 14o percentual entre as capitais (era o 15º em 2019).

Já o número de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza monetária cresceu de forma importante na capital baiana, entre 2019 e 2020. Passou de 146 mil para 241 mil pessoas, o que representou um aumento de 64,8% ou mais 95 mil pessoas extremamente pobres em um ano. Entre 2019 e 2020, o número de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza cresceu em 15 das 27 capitais. Salvador teve o terceiro maior aumento absoluto (+95 mil pessoas), abaixo apenas de Rio de Janeiro (+204 mil) e São Paulo (+180 mil).

Em termos percentuais, o aumento soteropolitano foi 6º  mais elevado. Assim, no ano passado, 8,4% da população da capital baiana estava abaixo da linha de extrema pobreza, ou seja, viviam com um rendimento domiciliar per capita inferior a R$ 153 por mês. O percentual era de 5,1% em 2019.
Com esse crescimento, Salvador passou a ser a capital brasileira com maior proporção da população vivendo em situação de extrema pobreza monetária. Um ano antes, em 2019, era apenas a 10a nesse ranking. (Correio da Bahia)