© Valter Campanato/Agência Brasil

Todas as quartas-feiras a empresária Luciana Trindade tem uma programação marcada. É o dia de ir às compras para abastecer o seu restaurante, que fica localizado na Federação. Há alguns meses, a ida ao mercado tem ficado cada vez menos desejada. “Tudo está absurdamente caro”, resume Luciana. A reclamação não é à toa. Os itens de hortifruti acumulam alta de mais de 260% na Bahia entre outubro de 2023 e fevereiro deste ano.

Entre as hortaliças que fazem parte da pesquisa da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), as que ficaram mais caras foram: inhame (266%), chuchu (249%) e abóbora (215%). Quando as batatas ficaram mais caras (53%), Luciana Trindade substituiu o purê do restaurante feito com o produto pela abóbora. A troca durou pouco tempo.

“Mudei para a batata doce, depois começamos a cozinhar com a abóbora. A gente vai tentando criar novos meios para não repassar os aumentos para os clientes, mas não está fácil”, diz a proprietária do Tia Lú Restaurante, que foi inaugurado há oito anos. O quilo da abóbora, que custava R$2,42 em fevereiro, alcançou R$7,63, de acordo com a SEI. A pesquisa foi feita com base nos preços do Centro de Abastecimento da Bahia (Ceasa).

Já entre as frutas, a banana lidera a lista dos itens que mais subiram de preço. A caixa de 45 quilos que era vendida a R$105, em outubro, custa R$191 em fevereiro – um aumento de 82%. A fruta é produzida no oeste baiano e a safra foi prejudicada pelo calor extremo da região no ano passado. Além da banana, caju (76%), abacaxi (59%), coco verde (54%) e laranja pera (51%) aparecem no ranking.

Além dos consumidores comuns, donos de restaurantes fazem “jogo de cintura” para evitar o repasse aos clientes. Jasio Velázquez é dono do La Taquería, que serve culinária mexicana no Rio Vermelho. As compras dos alimentos são feitas semanalmente e a saída encontrada pelo empresário é pesquisar. “Tento colocar um teto de gastos, mas os preços mudam muito de uma semana para outra. Estou sempre fazendo ajustes e pesquisas para encontrar os produtos mais baratos”, diz.

Como a cozinha do restaurante é especializada, driblar a inflação com substituições nem sempre é possível. “Nós servimos guacamole, que é feito com abacate, então é um produto que não pode sair do cardápio”, explica. Aumentar o preço dos pratos também não é opção. “O custo da mercadoria impacta no que é vendido e a gente vê como o lucro é, às vezes, devorado pela inflação”, lamenta.

Eventos climáticos extremos e a influência do El Niño prejudicaram as safras de legumes, folhas e frutas na Bahia e no país. A alta de preços dos itens afasta, ainda mais, famílias de baixa renda dos alimentos naturais, como explica Ana Georgina Dias, supervisora do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

“Como existe uma gama variada de itens de hortifruti, substituições podem ser feitas. Mas que tem acontecido, de modo geral, é uma alta de preços que dificulta até as substituições e as famílias de baixa renda evitam comprar os alimentos”, diz. Correio da Bahia