Desemprego, inadimplência e inflação. Esses são alguns dos problemas enfrentados pelos trabalhadores e que tem atingido em cheio o comércio de Salvador. Na capital baiana e região metropolitana, três em cada dez pessoas não conseguiram pagar as contas no fim do ano passado.

Uma análise da Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio), divulgada nesta terça-feira (22), aponta que a inadimplência em Salvador atingiu o maior nível dos últimos dez anos em setembro do ano passado, com 32,6%. Em dezembro foi para 29,4%.

Para a Fecomércio, a previsão é de que em 2022 a situação melhore, mas o crescimento no setor ainda deve ser pequeno.

A ambulante Maria Mercês trabalhou em uma empresa multinacional, é bacharel em direito e perdeu o emprego durante a pandemia. A baiana paga a faculdade do filho com o dinheiro da banca de camelô.

“A luz atrasa um pouco, deixo juntar dois recibos para pagar um, porque se não já era, a Coelba [empresa de fornecimento de energia] corta. O cartão de crédito, há muito tempo eu não compro, porque se não é uma bola de neve”, disse.

Para o economista da federação, Guilherme Dietze, um dos motivos do endividamento das famílias na Bahia é o desemprego. A taxa de desocupação, pessoas que procuraram emprego e não encontraram é de 18,7%. A pior média da região Nordeste.

“Com a pandemia veio o desemprego e a inflação, isso impactou muito no seu poder de compra. Então o consumidor precisou complementar a sua renda com o crédito, precisou aumentar o endividamento”, explicou.

“Com o cenário do desemprego, ele jogou essa dívida para frente, sem saber se ele ia conseguir pagar essa dívida. Na medida que ele não conseguiu, ele deixou essa dívida em atraso e se tornou cada vez mais inadimplente”.

A comerciante Eleíce Ramos tem uma loja em centro de comercial, no bairro de Brotas, onde vende roupas para mulheres. Desde o começo da pandemia do coronavírus, tem tido dificuldades e teve que demitir o único funcionário.

Após a demissão, a comerciante começou a trabalhar sozinha, 10 horas por dia, para pagar as contas. “Eu trabalho com o comércio em Brotas tem 11 anos e eu nunca vi uma situação dessa. A clientela acabou, desapareceu, essa é a verdade”, desabafou. G1