Um dos quatro vice-presidentes da Caixa Econômica Federal afastados na terça (16) por ordem do presidente Temer, Antônio Carlos Ferreira, afirmou em investigação interna sobre indícios de corrupção na instituição que sofreu pressão do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), atualmente cassado e preso.

 

O afastamento dos gestores foi decidido após recomendação do Ministério Público Federal (MPF) do Distrito Federal e do Banco Central. Ferreira, que ocupava a vice-presidência corporativa, relatou que Cunha cobrava dados semanais sobre as operações realizadas pelo banco superiores a R$ 50 milhões.

 

O executivo disse ter contado o fato para o então presidente da instituição financeira, Jorge Hereda, que pediu a ele que também informasse ao presidente Michel Temer – então vice-presidente da República – o que estava acontecendo. Ferreira afirma ter cumprido o que Hereda determinou, mas Michel Temer teria reagido apenas dizendo que Eduardo Cunha era um parlamentar “controverso” segundo informações do G1.

 

“No mesmo dia, Antonio Carlos Ferreira visitou Michel Temer, que o tranquilizou, dizendo que Antonio Carlos Ferreira deveria continuar trabalhando porque Eduardo Cunha era um deputado controverso. E que estava recebendo ligações de Cunha naquele exato momento”, aponta o texto da auditoria que analisou o caso.

 

Ele não lembra a data do encontro, mas conta que a reunião aconteceu no gabinete do peemedebista no Palácio do Planalto. Ferreira declarou, em entrevista à TV Globo, que é servidor de carreira da Caixa e que sempre atuou com ética e honestidade. Ele diz que, como vice do banco, combateu “com veemência as absurdas exigências do deputado Eduardo Cunha”.

 

O executivo ainda afirmou ser inocente e se colocou “à inteira disposição” do Ministério Público para esclarecimentos. Ferreira disse que não denunciou Cunha em 2014 por “temer pela sua família”. De acordo com o relato, poucos dias após ser empossado vice-presidente da Caixa, em julho de 2014, Ferreira foi procurado por Cunha e recebeu o pedido de uma lista com as operações de valor superior a R$ 50 milhões que tramitassem na sua área de atuação.

 

O deputado teria justificado que “aquilo ajudaria a rentabilizar seu mandato”. Ferreira disse ter recusado a solicitação porque “sigilo bancário era a coisa mais sagrada dentro da empresa”. Na sequência, conta ter buscado Hereda.

 

“Relatei imediatamente ali, cheguei e fui direto a ele, e ele me deu todo o apoio de enfrentamento a estas situações que talvez não tinham chegado a ele oficialmente através do vice-presidente, mas eu fiz chegar a ele oficialmente, presencialmente”. Sobre o encontro com Temer, Ferreira afirma que “seria leviano” garantir ter relatado as demandas específicas de Cunha, mas que Temer teria respondido: “Ó, o deputado.. Ele é controverso. Toca a sua vida em frente e vamos em frente que não vai acontecer nada com você”.

 

Em nota à TV Globo, o Planalto afirmou que “em reunião, o presidente Michel Temer tranquilizou o vice-presidente, Antônio Carlos Ferreira, que não queria atender às demandas do deputado Eduardo Cunha, para que mantivesse inalterado seu comportamento”.