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Enquanto a Bahia lidera o ranking de registros de homicídios dolosos – com intenção de matar – dos estados do país, Salvador ocupa o segundo lugar em relação ao crime entre os municípios. No primeiro trimestre, de acordo com dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJ), a capital baiana teve 236 casos. O número faz com que a capital baiana concentre 19,20% dos homicídios que ocorreram no estado e só fique atrás da cidade do Rio de Janeiro, com 257 registros nos primeiros três meses, em território nacional. Como a gestão estadual é responsável pelas ações combate à violência no estado, a Secretaria de Segurança Pública do Estado Bahia (SSP-BA) foi questionada sobre o problema, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.

Os números de Salvador nos primeiros meses fazem a cidade ter uma média diária de três mortes, mas representam, entretanto, uma redução percentual de 5,6% nos registros de homicídios dolosos. No entanto, a redução não impede que os dados do MJ sobre a capital baiana deem continuidade a um registro já feito em 2023. Segundo o Mapa de Segurança da Secretaria Nacional de Segurança Pública, que é de responsabilidade do MJ, o Rio de Janeiro foi o município com maior quantidade de vítimas de homicídios dolosos, apresentando 1.118 casos. sendo seguido por Salvador, que contabilizou 986 no decorrer do ano.

Na capita baiana, os exemplos são diversos. Na última quinta-feira (30), um taxista foi alvejado dentro do seu veículo enquanto fazia uma viagem no bairro de Cidade Nova, na Rua 1º de janeiro. No dia 24 de maio, nos Barris, uma jovem de 15 anos foi executada com diversos tiros em praça pública enquanto conversava com amigos. Antes disso, no dia 19 de maio, o bairro do Tororó, também na área central de Salvador, chegou a terceira execução em menos de um mês.

Se considerarmos os casos de abril, Salvador já registra 308 homicídios dolosos. O MJ, porém, só tem dados de homicídios da capital carioca dos primeiros três meses do ano. Questionado sobre a metodologia para a disponibilização dos dados, o MJ informou que os números são fornecidos pelas gestões de cada estado, que são responsáveis por contabilizá-los. “Os entes federados que não constam no mapa são os que ainda não enviaram as informações”, escreve em nota.

Vale ressaltar, no entanto, que Salvador tem 2,4 milhões de habitantes, de acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, e o Rio de Janeiro reúne 6,2 milhões de pessoas. Considerando abril, inclusive, Recife (217), Fortaleza (214) e São Paulo (107) fecham as cinco cidades com mais homicídios dolosos no Brasil. Entre essas, apenas a capital pernambucana está atrás da baiana em relação a número de habitantes.

Professor do Mestrado em Segurança Pública, Justiça e Cidadania e coordenador de inovação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Horácio Nelson Hastenreiter Filho diz que o fato de Salvador ter mais homicídios do que cidades com número mais elevado de moradores se deve a três fatores principais: disputas territoriais entre facções, renda per capta baixa e índices negativos na educação.

“Há uma reorganização dos grupos criminosos que afeta, diretamente, Salvador, o que explica a cidade ter mais homicídios que capitais com muito mais habitantes. Em São Paulo, por exemplo, há uma hegemonia que chegou a reduzir em 65% esse tipo de crime em anos anteriores. Aqui, pelo contrário, há uma disputa contínua que influencia nesses números. Vemos de forma recorrente bairros que são afetados por confrontos”, ressalta o professor. Ele destaca, porém, que esse não é o único fator.

“São vários fatores, alguns repetitivos. Três, porém, os principais. As disputas entre grupos organizados, que tem um impacto recente em Salvador e na Bahia como um todo são determinantes mais imediatos. A renda per capta e os índices de educação, onde Salvador sempre está entre as piores capitais, são fatores que influenciam a longo prazo, mas são razões do agora também”, fala Hastenreiter.

O rendimento per capta e educacional no estado, como o professor cita, está entre os piores do país. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2023 do IBGE, o rendimento domiciliar per capita da Bahia foi de R$ 1.139,00, abaixo da média nacional de R$ 1.893,00, e à frente apenas de Pernambuco (R$ 1.113,00), Alagoas (R$ 1.110,00), Acre (R$ 1.095,00) e Maranhão (R$ 945,00).

No último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que avalia as escolas públicas de todo país, o IDEB da Bahia foi de 3,6 para o Ensino Médio, o que deixa o estado empatado com Alagoas e Maranhão, e na frente apenas de Rio Grande do Norte (3,4), Amapá (3,3) e Pará (3,2) em nota positiva para educação.

“É claro que os investimentos em inteligência e ações policiais são fundamentais porque não se pode cruzar os braços e assistir o que acontece entre esses grupos criminosos. Porém, na medida que destinam investimento para isso, é preciso um movimento para que índices per capta e de educação também alcancem melhora para, no futuro, termos uma projeção melhor”, fala. Correio da Bahia