O prefeito ACM Neto anuncia nesta segunda-feira (6) a chancela à candidatura do vice, Bruno Reis, para sucedê-lo em 2021. É uma antecipação ao calendário regular, mas se trata de uma estratégia para consolidar o nome do apadrinhado dele. O anúncio em si não traz qualquer novidade à mobilização observada nos últimos três anos, mas será marcado pela tentativa de mostrar uma força política típica de convenções. E o que poderia ser feito por uma coletiva simples, será também um teste importante para medir a fidelidade e o alinhamento dos aliados que orbitam em torno do grupo do prefeito.

Como o campo da especulação já eliminou o fator surpresa em torno de Bruno Reis, ACM Neto precisaria criar as circunstâncias ideais para lançar seu candidato sem estar associado a um evento oficial da prefeitura. Para evitar celeumas com a Justiça Eleitoral, o chefe do Executivo soteropolitano fez uma opção esperta. Deixou para um ato estritamente político a apresentação do vice. Com data e hora marcadas, evitando, por exemplo, criar ciúmes por divulgar em momentos distintos para diferentes aliados. É um esforço relevante para minimizar os impactos negativos de ter “imposto” uma vontade, ainda que haja méritos na estratégia de Bruno Reis para se viabilizar.

Saindo alguns meses à frente do grupo adversário – o governador Rui Costa ainda não definiu como deve participar do pleito –, ACM Neto dá espaço para que o vice-prefeito avance nas conversas e negociações com os partidos do entorno. Já avalizado como candidato, Bruno ganha um peso maior para avançar nos diálogos para a construção da chapa majoritária e também do arranjo para arrumar as candidaturas a vereador, algo que ele faz há pelo menos duas eleições na capital baiana.

Para além dessa estratégia de dar um passo à frente dos opositores, o ato desta segunda será uma prova para verificar quem está disposto a ser aliado de primeira hora do candidato do grupo de ACM Neto. Isso pode contar para a escolha de quem vai para o posto de vice, para repartir espaços políticos no futuro ou, simplesmente, para verificar se o aliado A ou B estará disposto a fazer concessões para o futuro. E, definitivamente, o prefeito de Salvador não pensa apenas em 2020. Baixar a guarda para ACM Neto agora pode significar um acordo de fidelidade para pleitos futuros. E, convenhamos, desse lado da disputa política na Bahia, não há outro nome com força eleitoral atestada no passado recente como o atual ocupante do Palácio Thomé de Souza.

Há um risco, ainda que menor, do evento ser esvaziado de políticos de expressão e recheado de claques contratadas para fazer barulho. O prefeito optou por pagar para ver, talvez por confiar bastante na onda positiva de que é viável fazer o sucessor em Salvador. Sem um adversário competitivo, o nome de Bruno Reis tende a se consolidar como o protagonista do processo eleitoral da capital baiana sem muito esforço. Porém, tal condição transfere a “obrigação” de ganhar para eles. Aparentemente, esse é um fardo que ele e ACM Neto estão dispostos a carregar. Por Fernando Duarte/Bahia Notícias