(Arisson Marinho/CORREIO)

Um dia após o choque entre ferries no Terminal de Bom Despacho, na Ilha de Itaparica, o embarque exige muita paciência dos passageiros. O tempo de espera, que é reclamação recorrente em feriados e horários de pico, chegou a quatro horas em plena terça-feira (7) para motoristas no Terminal Marítimo de São Joaquim, em Salvador. Pedestres também reclamam e registram espera de 2h30 durante a manhã.

A demora se deve ao número de embarcações disponíveis. Segundo a Internacional Travessias Salvador (ITS), empresa responsável pela operação, apenas os ferries Zumbi dos Palmares e Pinheiro estão ativos. As embarcações envolvidas no acidente foram os ferries Maria Bethânia e Pinheiro. O ferry Maria Bethânia foi retirado para dar continuidade à investigação do incidente ocorrido dia 6. A empresa não deu previsão para retorno do resto da frota.

Enquanto isso, quem precisa viajar, seja saindo de Salvador ou Itaparica, é obrigado a lidar com atrasos do embarque, adiamento nos horários previstos e tempo de espera prolongado. A reportagem encontrou passageiros que chegaram às 7h, mas só conseguiram comprar bilhete para saída às 10h. A embarcação saiu às 10h30. Na manhã desta terça, o anúncio no terminal de Salvador era de embarcações a cada duas horas – embora o aviso da ITS seja de viagens de hora em hora.

A ITS reconhece que com duas embarcações não é possível escoar o fluxo com rapidez e calcula tempo de espera de três a quatro horas para carros na capital. A empresa diz que não há tempo de espera para pedestres. “Quase nunca temos fluxo”, afirma a assessoria.

Quanto às outras embarcações, Rio Paraguaçu e Anna Nery passam por vistoria obrigatória; Dorival Caymmi está em ampla reforma; e o Ivete Sangalo está em manutenção corretiva. A empresa chegou a operar com apenas duas embarcações no segundo semestre de 2022, mas diz que não tem registro da data específica e a situação durou poucas horas.

Reclamações

As denúncias de atraso do embarque e adiamento nos horários previstos – como quem chega para comprar o bilhete das 8h mas só tem para 10h – são comuns entre passageiros. O balconista Jandir Humildes, 34, conta que mora em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo baiano, e pediu folga no trabalho, ontem, para viajar até Salvador com objetivo de atualizar a documentação da moto no Departamento Estadual de Trânsito da Bahia (Detran). O plano era voltar na terça por meio do ferry, mas a demora no tempo de espera atrasou a chegada ao trabalho, cujo expediente começa às 12h. Ele só conseguiu embarcar às 10h30.

“Cheguei aqui 7h40. Queria viajar cedo e estar lá 9h. Agora só vou chegar por volta das 13h30, isso se não tiver mais atraso. Tenho que ir trabalhar, mesmo atrasado, pra não ‘queimar o meu filme’. Mandei vídeo e foto pro meu chefe para saber da situação”, afirma. “Falta informação. A gente pergunta aqui e ninguém sabe responder. Isso quando acha alguém para responder”, reclama do atendimento.

Para quem estava no embarque de pedestres, a situação não foi diferente. A enfermeira Ana Lucia, 57, diz, já cansada, que saiu do plantão no hospital às 7h e ainda vai para Camamu, no Sul da Bahia. Ela só conseguiu passagem para 12h. “Estou com fome, sono. Está cansativo, não temos paz nesse lugar. Cheguei aqui às 9h40, não peguei fila, mas tem a demora para embarque”, explica.

Passageiros que chegavam de Itaparica relataram espera de 1h, menor do que em Salvador. A autônoma Vilma de Jesus, 41, diz que trabalha na capital e chegou atrasada para o trabalho. “Começo a trabalhar 9h, faço entrega de marmita. Já tenho pedido aqui, mas cancelei porque senão vou atrasar a entrega. Estava no interior, cheguei lá [no terminal às] 7h. Esperava pegar o ferry de 8h, mas só peguei às 9h”, narra.

Investigação

Segundo a promotora de Justiça, Rita Tourinho, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP) está acompanhando a situação para avaliar o cumprimento ou não do contrato com a ITS. Rita afirma que há descumprimento da empresa, assim como do Estado.

“Não há fiscalização efetiva pela Agerba, inclusive por falta de fiscais. O que se verifica é a má prestação dos serviços. Muita sujeira, péssima conservação das embarcações. Por outro lado, o Estado já deveria ter providenciado a inclusão de duas novas embarcações no sistema, [pois] há previsão no contrato. [Mas] não se fez até a presente data”, afirma.

Para resolver o imbróglio, o MP realiza audiências que devem tratar das denúncias recebidas sobre o caso. Há reunião agendada para a próxima segunda-feira (13) quanto à necessidade de ingresso de novas embarcações. A solução deve ser consensual, pois recursos ao Judiciário tendem a exigir longos para solução, explica a promotora.

Na última sexta (3), durante a abertura de trabalhos na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), o secretário de Infraestrutura Sérgio Brito chegou a falar que um processo de licitação vai ser aberto para aquisição dos novos ferries e que o processo está “caminhando a passos largos”, mas os ferries só devem chegar em 2024. “Não chegarão amanhã. Vai abrir um processo de licitação. Nós esperamos que seja para o próximo verão, para dar mais tranquilidade aos usuários do sistema. São ferries grandes, com capacidade para mais de 180 carros”, disse ele aos jornalistas.

Sobre o acidente, a Internacional Travessias Salvador informou que houve um “erro de aproximação na manobra do ferry Pinheiro”, o que acabou causando o choque. Vídeos mostram o momento do choque, com passageiros assustados e correndo. Motos que estavam no ferry Maria Bethânia chegaram a tombar no chão. Para os motociclistas que tiveram prejuízo, “a ITS sinaliza que está à disposição para recebê-los, e serão avaliados caso a caso”. Não houve pessoas feridas.

A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) informa que está apurando as causas do incidente. A Marinha do Brasil, por meio da Capitania dos Portos da Bahia (CPBA), informou que irá instaurar um inquérito administrativo para apurar as causas, circunstâncias e responsabilidades do ocorrido.

Associação de moradores de Bom Despacho agenda protesto para sexta (10)

A Associação de Moradores de Bom Despacho informou que os membros estarão presentes na próxima sexta-feira (10) no Terminal do Bom Despacho, em Itaparica, às 8h, para cobrar melhorias no sistema ferryboat.

Segundo o diretor da associação, Cledson de Oliveira, a região está sofrendo com a crise. As cidades têm perdido turistas e a população, produtos para abastecimento. “Vemos o sumiço de marcas do mercado varejista tem. Até água mineral para o fornecimento interno nos garrafões já está sendo dificultoso [por conta da] necessidade de alternância de uso do Ferryboat pelos caminhões que trazem esses produtos e abastecem a região”, denuncia.

Oliveira diz que na quarta-feira (8), moradores da região estarão às 9h na Casa do Empreendedor, em Itaparica, em reunião com órgãos públicos, como MP, Agerba e Secretaria de Infraestrutura (Seinfra).

Os moradores esperam pela construção da ponte Salvador-Itaparica. A reportagem solicitou posicionamento e previsão da construção da ponte Salvador-Itaparica para o Seinfra, que orientou falar com a Concessionária Ponte Salvador-Itaparica. O consórcio comunicou que a implantação da ponte segue em andamento e, para 2023, estão previstos investimentos acima de R$ 200 milhões para execução da dragagem do acesso ao Porto de Salvador e da sondagem na Baía de Todos os Santos para análise do solo e definição dos melhores locais para instalação dos pilares do equipamento. Não foi informada previsão de entrega. Correio da Bahia