© Marcello Casal jr/Agência Brasil

Em 2022, o Brasil tinha 1,2 milhão de pessoas vivendo sem nenhum banheiro ou sequer um sanitário, e 5,4 milhões em lares com quatro banheiros ou mais, segundo dados do Censo divulgados na sexta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses números equivalem, respectivamente a 0,6% e 2,7% da população brasileira, de 203 milhões de habitantes. Os 97,8% que têm algum banheiro estão divididos em:

  • 1 banheiro: 62,58%
  • 2 banheiros: 26,18%
  • 3 banheiros: 6,33%
  • 4 banheiros: 2,67%

A fatia da população sem banheiro caiu desde 2010, e o avanço aconteceu em todas as regiões. As maiores elevações ocorreram nas regiões Norte e Nordeste. Apesar do avanço, ambas ainda estavam, em 2022, em patamares inferiores aos que as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste tinham em 2010 (veja no infográfico abaixo).

De um a sete banheiros

Déborah mora em um apartamento que um dia pertenceu a avó na região central de Londrina, no norte do Paraná. O local dispõe de quatro banheiros. Para a jovem, que mora sozinha, a quantidade é excessiva e ela chegou a desativar um deles.

“A casa tem dois banheiros completos e bem grandes. Um eu utilizo no dia a dia. O outro fica parado. O lavabo é usado eventualmente por prestadores de serviço e visitas”, explica. Além disso, segundo Déborah, a disposição dos banheiros dentro da arquitetura do apartamento causa estranhamento.

“Os quartos não são suítes, são pequenos, enquanto os banheiros são bem grandes. […] Imagino que a divisão na época seria um banheiro para o casal e um banheiro para os filhos , mais um lavabo para as visitas e o banheiro de serviço”, detalha. A jovem conta também que a casa onde morava com os pais, também em Londrina, conta com sete banheiros.

Atualmente, apenas o casal de idosos mora no local. A casa, porém chegou a abrigar sete pessoas e todos os banheiros eram amplamente utilizados. A cerca de quatro quilômetros dali mora Kelly Cristina Evangelista, no Assentamento Aparecidinha, no bairro Jardim São Jorge.

Apesar da proximidade, ao contrário de Déborah, a casa onde ela jovem mora não tem acesso à água encanada e nem a saneamento básico —assegurado pelo direito à dignidade da pessoa humana, conforme a Constituição.

Kelly afirma que precisou improvisar um espaço, que é usado como banheiro, na casa onde vive com o marido. Os dois ergueram uma estrutura de madeira e colocaram um vaso sanitário. Todos os dejetos depositados lá caem em uma fossa que fica ao lado da residência do casal.

“Meu banheiro era para fora, mas o meu marido colocou uma portinha. Eu fiz um banheiro de tábuas e ele abriu uma ‘boca’ para a gente poder usar, porque ficar sem banheiro é difícil. Mas não tem nada de nada, só tem uma fossa”, conta.

De acordo com o IBGE, para ser considerado um banheiro, é necessário que seja um cômodo separado com local para banho, sanitário e que seja utilizado pelos membros da família e/ou hóspedes.

Apesar das condições precárias, o banheiro de Kelly se encaixa nas definições do instituto. Ela relata ainda que cuida diariamente da neta de 5 anos. Para Kelly, a ausência de um banheiro dificulta os cuidados com a criança e o bem-estar da família.

“A qualquer momento pode vir uma chuva e derrubar o banheiro”, desabafa. A expectativa de Kelly é que, um dia, o acesso à água potável e ao saneamento básico chegue até a residência. “É o meu sonho e de todos que moram aqui”, afirma.