Clemente Coelho Júnior/Reprodução

O óleo que atingiu praias do Nordeste preocupa ambientalistas e estudiosos, pois invadiu estuários de rios e manguezais em Pernambuco. Um dos locais afetados é o Rio Massangana, no Cabo de Santo Agostinho, no Litoral Sul, onde um pesquisador fez imagens do impacto na área, um berçário natural rico em biodiversidade.

As imagens mostram que o óleo invadiu a casa dos caranguejos, uma área de transição onde a água salgada do mar se mistura à água doce do rio. Com isso, estes passaram a encontrar, em vez de alimento, material tóxico.

Desde setembro, também foram afetados o Rio Persinunga e Rio Una (São José da Coroa Grande), Rio Maracaípe (Ipojuca), Rio Massangana (Cabo de Santo Agostinho), Rio Sirinhaém (Sirinhaém), Porto do Recife (Recife), Rio Paratibe (Paulista), Rio Doce (Olinda) e o Rio Jaguaribe e Canal de Santa Cruz (Ilha de Itamaracá).

Manguezais em Pernambuco são atingidos por óleo que assola costa brasileira desde setembro — Foto: Clemente Coelho Júnior/Divulgação

As imagens dos caranguejos entre as raízes cobertas por óleo foram feitas pelo professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho Júnior. Segundo o pesquisador, o impacto no mangue é inestimável.

“Essas raízes são extremamente importantes para a árvore, são raízes respiratórias. Uma vez que são recobertas por óleo, ocorre o sufocamento dessas raízes, consequentemente prejudicando a árvore. Não existe protocolo, no mundo, de limpeza de óleo no mangue”, disse o pesquisador.

Estima-se que em torno de 60% a 70% das espécies de importância econômica, utilizados na pesca, utilizam, em pelo menos uma fase da vida, os ambientes afetados pelo óleo. Segundo o pescador Sandro Francisco Barbosa, o problema tem afetado o sustento de quem vive do mar.

“Há mais de uma semana, praticamente 15 dias, que a gente não pesca. E o peixe que eu tenho em casa, ninguém quer comprar, porque está com suspeita de estar contaminado. E eu não estou nem querendo vender, porque não quero colocar em risco os meus clientes”, contou.

Rio Mamucabas

Outro local afetado pelo óleo é a Praia da Boca da Barra, em Tamandaré, no Litoral Sul do estado, onde fica o estuário do Rio Mamucabas, uma área de proteção ambiental rica em biodiversidade e ameaçada por esse desastre ambiental.

Esse estuário é o endereço do peixe mero, uma espécie criticamente ameaçada de extinção. Dóceis e grandes, os meros vão até Tamandaré na fase de crescimento, segundo o supervisor do projeto Meros do Brasil, Lucian Interaminense.

Estuário do Rio Mamucabas foi afetado por óleo que vem do mar — Foto: Reprodução/TV Globo

“Na fase juvenil, ele fica entre quatro e sete anos, para depois se jogar para o mar. Então, os manguezais, o estuário, eles são importantes para a alimentação e proteção desses indivíduos jovens”, disse.

De acordo com o secretário de Meio Ambiente de Tamandaré, Manoel Pedrosa, a situação dos manguezais exige maior atenção. “Na maré seca, a água fica confinada, então todo sedimento que está poluído, com óleo, vai soltando as partículas e isso pode prejudicar a coluna d’água”, afirmou.

O óleo no fundo do rio atraiu outro tipo de voluntário, como o geógrafo Danilo Carvalho. Ele usava luvas, nadadeiras e máscara para mergulhar, com raça e fôlego, para limpar o leito do Rio Mamucabas. “[A mancha tem] de 150 a 200 metros de extensão. Ela começa fina, em direção à foz do rio, no sentido ao mar, e no sentido do estuário. Tem uma espessura de até 20 centímetros”, contou.

Raízes nos manguezais ficaram cobertas por óleo no Litoral de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo

Por causa desse desastre ambiental inédito, muitos problemas surgiram, sem que haja um protocolo ou uma estratégia de ação definida pelos técnicos. Nove dias depois que o óleo chegou ao leito do Rio Mamucabas, os órgãos ambientais ainda estudam o que fazer. Enquanto isso, se torna cada vez mais difícil retirar o óleo, que está depositado no fundo do rio.

Por isso, os voluntários decidiram não esperar. A cada mergulho, o eletricista Jailson José da Silva recolhia mais resíduos. “Nós estamos aqui na força, precisando de ajuda do governo estadual, do governo federal, que está chegando agora e o tempo está se esgotando, porque o óleo está sendo soterrado e sendo carregado para o mar novamente”, declarou.

A recomendação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) é de não entrar na água enquanto o protocolo não fica pronto. Os militares obedecem, mas voluntários, não. Segundo a superintendente do órgão em Pernambuco, Lisânia Pedrosa, a elaboração do protocolo foi iniciada para estabelecer as medidas mais adequadas para lidar com a chegada do óleo às praias.

Caixas vazadas são usadas para remover óleo de estuário de rio em Tamandaré — Foto: Reprodução/TV Globo

“Nós estamos avaliando com técnicos especializados as medidas mais adequadas para estabelecer um protocolo, que já está sendo montado, para que se retire do leito do rio as camadas de óleo que ficaram soterradas, de forma segura, e tenham o menor impacto ambiental possível. Pisoteiam em cima dessa camada, muita gente movimentando, isso pode atrapalhar mais porque afunda mais o petróleo no leito do rio e aí dificulta mais ainda”, explicou Lisânia.

A prefeitura de Tamandaré improvisou um equipamento para retirar o óleo, usando um trator para puxar caixas vazadas com grades, que tiravam a areia, junto com o óleo do fundo do rio. Segundo o prefeito Sérgio Hacker (PSB), o improviso supre a necessidade da técnica, que ainda não existe.

“Infelizmente, a gente cobrou a solução e, como não existe esse protocolo, que está sendo criado, a gente vai continuar com os voluntários fazendo a retirada manual desse material do leito do rio”, disse Hacker. Ele informou que foram removidas 20 toneladas de óleo do local. G1