A procuradora Geral da República, Raquel Dodge, afirmou em documento de 40 páginas enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que as investigações da Polícia Federal a partir das delações da J&F indicam “com muita seriedade a existência de uma relação espúria e duradoura” entre o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o grupo empresarial. A Polícia Federal realizou buscas e apreensões na manhã desta terça (11).

 

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal cumpriram mandados de busca e apreensão nos imóveis de Aécio Neves (PSDB-MG) e da irmã dele, a jornalista Andrea Neves, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais segundo o G1. A operação, batizada de Ross, surgiu a partir de delação de executivos da J&F e apura denúncias de compra de apoio político.

 

“O vasto acervo, formado por depoimentos e provas documentais, indica a existência de uma associação criminosa voltada a corrupções de valores monumentais, da ordem de mais de cem milhões de reais. Milhões de reais foram repassados e boa parte deles, ao que apontam os indícios, por mecanismo clássico de lavagem de dinheiro”, diz Dodge, completando que há suspeitas de repasse de R$ 128 milhões em vantagens indevidas.

 

Na operação desta terça, autorizada pelo ministro Marco Aurélio Mello, também foram realizadas buscas em endereços do deputado federal Paulinho da Força (SD-SP), em São Paulo. Segundo a procuradora-geral, as investigações apontam que o Solidariedade teria recebido R$ 15 milhões da J&F a pedido de Aécio, com intermediação de Paulinho da Força.

 

De acordo com a PGR, o repasse teria sido feito por meio de doações oficiais e simulação de prestação de serviços, conforme a apuração. A PF teria identificado emissão fraudulenta de notas para “escamotear” R$ 4 milhões, afirmou Dodge. Também foram juntadas notas fiscais apresentadas pelos delatores, reproduzidas pela PGR.

 

Algumas dessas empresas tinham ligações, segundo a PF, com familiares do deputado Paulinho. A procuradora afirmou que as buscas em endereços ligados a Aécio e Paulinho da Força eram necessárias para confirmação dos dados apresentados pelos delatores. No ano passado, a Procuradoria Geral da República pediu a anulação da delação da J&F por suspeita de omissões dos delatores, mas pediu que as provas sejam mantidas válidas.

 

O STF só deve avaliar se mantém ou anula a colaboração no ano que vem. A procuradora opinou contra pedido da PF para afastamento do cargo e recolhimento domiciliar noturno de Aécio e outros parlamentares citados. Para Dodge, embora os fatos sejam “graves”, ainda não foram coletados elementos que justificasse a medida.

 

“Entendo que não há substância para medidas cautelares diversas da prisão. Com efeito, embora os específicos fatos em apuração sejam graves, ainda não foram colhidos elementos concretos demonstrando que as medidas são necessárias”, afirmou.