Presidente do PDT na Bahia, da base de ACM Neto (União), o deputado federal Félix Mendonça Júnior avalia que a eleição de um Congresso Nacional conservador foi um recado da sociedade brasileira. “O recado da sociedade é de que ela não aguenta mais corrupção. Pelo menos, o Congresso está demonstrado isso aí”, afirmou, em entrevista à Tribuna.

Félix afirmou que seguirá a posição do seu partido de apoiar o ex-presidente Lula (PT) no segundo turno das eleições. “Olha, eu sou partidário. O partido optou pelo menos pior, como foi dito. Essa é informação que é passada para os partidários”, declarou. O pedetista disse que não se surpreendeu com o resultado do primeiro turno nas eleições da Bahia, que encerrou com a vitória de Jerônimo Rodrigues (PT) em cima de ACM Neto (União Brasil). Os dois agora disputam o segundo turno.

Tribuna – Como o senhor avalia o segundo turno na Bahia? ACM Neto pode virar e ganhar a eleição?

Félix Mendonça Júnior – Eu acho que voltou uma nova eleição. E é engraçado como as opiniões mudam. Agora, Jerônimo está fugindo do debate. Neto antes não queria ir com todos. Só queria ir ao debate um a um, mas foi ainda no último debate. Jerônimo agora corre do debate porque demonstra que ele tem receio de que a população veja o confronto de pessoa a pessoa. A estratégia que eu vejo do candidato Jerônimo é a estratégia daquela da “peixada”, do “pistolão”. Tem o pistolão de Lula, tem uma peixada de Lula, então não precisa ter qualidade. A população quer ver hoje é um candidato preparado, que participe do debate, debata os problemas baianos e em frente de cara. Os problemas da violência, da Educação e as propostas para o futuro.

Tribuna – O senhor acha que Jerônimo Rodrigues tem receio perder votos no debate?

Félix Mendonça Júnior – Esses votos que foram conquistados no primeiro turno foram votos do “pistolão”, do candidato de Lula. É um candidato que não diz o que ele é. Não mostra a preparação dele. Não mostra qualificação. Teríamos aí a oportunidade de ter quatro, cinco debates, de um a um, de um horário nobre em rádio, televisão. Como todo toda a democracia civilizada deve ter no debate. Principalmente aquele debate do segundo turno. É imprescindível, que é um a um, para a população verificar. O candidato correndo o debate tipo assim: ‘se eu participar, eu vou perder voto’. Se ele pensa nisso, é porque ele já se considera que é mais fraco, em termos do que tem de expor a população, do que o outro.

Tribuna – Na véspera da eleição, tinha pesquisas apontando a possibilidade de ACM Neto até ganhar no primeiro turno. Esse desempenho de Jerônimo lhe surpreendeu de alguma maneira?

Félix Mendonça Júnior – Não surpreendeu não, porque a gente sabia anteriormente que o casamento do voto do 13 era forte. Isso não surpreendeu de jeito nenhum. Eu falava que era uma eleição muito difícil. Muito difícil para os dois lados. Um porque tem um candidato mais despreparado, que é o Jerônimo. Desconhecido e que vai na base do pistolão, do quem indicou. E o outro é um candidato que já tem mais preparo e tal, mas que não tem a indicação assim. Não tem o pistolão para chegar. Mas o que eu queria ver realmente era o debate, eram as ideias para a educação. As ideias para resolver um problema de segurança que está insustentável na Bahia. Insustentável. Agora mesmo mataram um empresário ali em Lauro de Freitas. É um crime de execução. Teve um crime de um médico lá em Xique-Xique sem nenhuma resposta, (a morte) do próprio segurança que fazia a escolta de ACM Neto. (Outro segurança que sobreviveu) que agora parece que transferiram ele para outra função. Está invertendo na segurança quem é bandido e quem não é. O rapaz (segurança de ACM Neto) foi confundido com o bandido, tomou cinco tiros e ainda parece que punem ele. “Ah, mas por que que você não morreu? Vou te botar em outra função agora”. Que é isso? Então, a questão de segurança está insustentável da Bahia. Está de fazer medo. Está na época de pedir uma intervenção federal. Estamos chegando ao ponto que é pior do que guerra.

Tribuna – O senhor acha que houve erro da parte ACM Neto ou de Jerônimo?

Félix Mendonça Júnior –   Você não tem campanha sem erro, né? Claro que teve erro dos dois. Para falar em erro depois de acontecer a eleição, é muito fácil. É analista depois do jogo jogado. Os dois tentaram fazer o melhor que puderam. Jerônimo tentando se agarrar a um projeto nacional, que é Lula, para ser levado como uma onda já que ele não tem as qualidades próprias. Neto tentando demonstrar que é um candidato que já fez em Salvador e que tem a qualidade para governador. Erros tiveram dos dois lados, mas não cabe a mim comentar.

Tribuna – A autodeclaração de ACM Neto como pardo, que foi aproveitada pela oposição, o desgastou? Ou o senhor acha que não influenciou o desempenho dele nas urnas?

Félix Mendonça Júnior – Acho que pode até ter influenciado pela forma que jogaram isso. Isso foi quase uma fake news. Todo mundo vê que ACM Neto não é nem preto nem é branco. Então, sobrou para ele que é pardo. Misturaram pardo com preto. A autodeclaração não foi com finalidade de ter verba. Uma autodeclaração que não é nem preto nem é pardo. Eu também estou autodeclarado como pardo, porque não sou nem branco nem preto. Eu não fico vermelho quando tomo sol. Aquele vermelho queimado de sol. Quando tomo sol fico mais moreno. Na minha certidão, está lá moreno. Então, acho que a exploração desse fato demonstra que não tinha outro fato, como Educação, Segurança, trazer indústria, mão de obra qualidade… (A discussão da autodeclaração) foi uma coisa tão ridícula que desqualificou a campanha. Acho que esse fato desqualifico o uso agressivo, de maneira chacota, pejorativa. Tiraram as propostas e vão debater se o cara se autodeclarou pardo, branco ou negro. É uma coisa menor. Tanto faz se ele é pardo, negro ou branco, o que interessa é proposta. Aí ficou um debate que levou um bocado de tempo aí. Acho que esse fato desqualificou e se assemelhou a fake news. ACM Neto não é branco, branco é um ariano, um loiro de olhos azuis. No Brasil, é difícil até você encontrar um branco. Ele não é preto também. Está longe.

Tribuna – Em relação ao segundo turno da disputa presidencial, o senhor segue o seu partido PDT, que declarou apoio a Lula contra Bolsonaro?

Félix Mendonça Júnior – Olha, eu sou partidário. O partido optou pelo menos pior, como foi dito. Essa é informação que é passada para os partidários.

Tribuna – Como o senhor avalia esse novo desenho do Congresso Nacional? É o mais conservador da história…

Félix Mendonça Júnior – O Congresso sempre reflete a sociedade. De tempos em tempos, esse espelho da sociedade vai mudando. Tem também o combate à corrupção que foi muito forte e tal. O Congresso, como eu disse, é o espelho da sociedade que vive aquele momento. Às vezes, ele puxa mais para uma esquerda, mais para direita, mais para o conservador. Quando vê que alguns valores estão sendo invertidos. Então, se a sociedade puxou mais para um Congresso conservador é porque ela estava aspirando, estava contagiando, que certos valores voltassem ao centro do poder.

Tribuna – Se Lula for eleito presidente, ele vai ele vai enfrentar alguma dificuldade maior por conta justamente desse Congresso mais conservador?

Félix Mendonça Júnior –   Depende do que ele queira. Se ele quiser colocar recurso do BNDES em outros países, ele vai afrentar grandes problemas. Se quiser fazer mensalão, ele vai enfrentar grandes problemas. Qualquer presidente. O recado da sociedade é de que ela não aguenta mais corrupção. Pelo menos, o Congresso está demonstrado isso aí.

Tribuna – Aliados do presidente Jair Bolsonaro têm defendido punir e investigar os institutos de pesquisa, que acabaram errando em algumas estimativas. O que o senhor acha dessas propostas?

Félix Mendonça Júnior – Acho até que podia ter uma classificação. O Inmetro não classifica as geladeiras, que consomem menos energia? Deveria ter uma classificação para o instituto que acerta mais. Três estrelas, quatro estrelas, cinco estrelas. O instituto que acerta mais, é mais próximo ele ganha uma estrela. Podia ter uma classificação e punir. Quem quiser faça seu instituto, erre como quiser, mas paciência, se for fraudulento ou não. Já pensou ter mais uma coisa para a Justiça Eleitoral investigar, punir? Se tiver uma estrela de classificação, aí sim aí pode ir atrás porque vai ter um instituto com cinco estrelas. Você sabe que aquele instituto acerta, digamos assim, 90%. Podia ter uma classificação positiva.

Tribuna – Houve muita fake news, mas parece que houve uma diminuía em relação à campanha de 2018…

Félix Mendonça Júnior – Deu uma diminuída. Aquele projeto de denunciação caluniosa com finalidades eleitorais, que é o primeiro combate a fake news, é uma lei minha, de minha autoria, que foi sancionada em 2020. Então, o que valeu para eleição de prefeitura anteriormente agora valeu para essa eleição. Virou crime fake news com finalidade eleitoral. Criar ou divulgar. A população começou a rechaçar as fake news. Mesmo assim tivemos muitas ‘fakes’ em rede social, em menor volume. Tribuna da Bahia