João Valadares / Ascom / PT Bahia

O PT da Bahia avalia que adotou uma abordagem democrática e inclusiva para escolher Fabya Reis como vice de Geraldo Júnior, refletindo um legado de diálogo e consenso iniciado por Jaques Wagner. Segundo o presidente do Diretório Estadual, Éden Valadares, a escolha fortalece a chapa, engajando diversos setores da sociedade. “Fabya é a representação da unidade do PT, dos movimentos sociais, das organizações populares, da adesão da classe trabalhadora e do povo de luta à candidatura de Geraldo, de Jerônimo e Lula”, afirmou, em entrevista à Tribuna. Minimizando apoios dissidentes, o petista afirmou que a militância do PT está unida. Valadares ainda prevê dobrar o número de prefeitos do PT na Bahia e enfatiza a importância das alianças para 2024, com foco em derrotar o bolsonarismo. Durante o papo, ele ainda cravou que Lula e Jerônimo deverão se lançar para a reeleição em 2026.

Como foi a estratégia do grupo e do PT na escolha de Fabya para a vice de Geraldo? E de que forma ela pode agregar na chapa?

Éden Valadares – Nós temos um jeito diferente de definição das coisas, de tomada de decisão, do que o outro grupo. Como é que funciona lá? Lá tem um chefe onde manda quem pode e obedece quem tem juízo. Aqui não. Aqui tem uma soma de partidos que em pé de igualdade dialogam, apresentam suas demandas, suas opiniões, a gente debate e vai construindo consensos. Não tem negócio de dono, de herdeiro, de líder supremo. Tem democracia e política. A boa política. Penso, inclusive, que esse é nosso legado imaterial mais valioso, pois com Jaques Wagner a gente libertou a Bahia do tempo do mandonismo e inaugurou uma nova cultura política. Então Fabya é fruto desse processo. Primeiro entendemos coletivamente que deveria ser alguém de esquerda. Depois, por conta de estarmos sintonizados com a demanda da sociedade que cobra uma maior participação das mulheres nos espaços de poder, que deveria ser uma companheira. Por fim, que caberia ao PT fazer essa indicação. E o PT indicou o que tem de melhor, que é Fabya Reis. Militante orgânica do PT, umbilicalmente ligada aos movimentos sociais e uma gestora testada e aprovada, tendo sido secretária de Estado nos governos Rui Costa e Jerônimo Rodrigues.

Mulher negra e ligada a movimentos sociais, Fabya poderá ajudar a equilibrar a chapa e engajar esses setores?

Éden Valadares – Com certeza. Fabya é a representação da unidade do PT, dos movimentos sociais, das organizações populares, da adesão da classe trabalhadora e do povo de luta à candidatura de Geraldo, de Jerônimo e Lula.

Um grupo de militantes do PT declarou apoio a Kleber Rosa. Como viu essa movimentação? O partido adotará alguma medida em relação a isso?

Éden Valadares – Com todo respeito, é uma questão residual, pontual, quase individual ou que dá para contar nos dedos. Isso só vira notícia porque o prefeito, e ex-prefeito e o jornal da família estimulam. Deixa eu te contar uma coisa, o PT é um partido dirigente, militante, aguerrido, mas maduro. Temos 44 anos de história, em defesa da democracia e de grandes vitórias eleitorais, mas sabemos reconhecer o valor das nossas alianças. O PT não ganhou com Lula sozinho, nem ganhou com Jerônimo sozinho. E a nossa militância sabe disso, reconhece isso. É claro que a gente gosta de disputar e ganhar. Mas nossa militância sabe a importância de receber apoio e de apoiar. Eu tenho 113% de certeza de que a militância do PT estará com Rui Costa, Jaques Wagner, Jerônimo e Lula na campanha de Geraldo.

Um dos motes da propaganda de Geraldo é sobre a possibilidade de “fazer diferente”. Qual será a estratégia do grupo considerando que, segundo as pesquisas, o atual prefeito é bem avaliado?

Éden Valadares – Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como se diz na Bahia. João Henrique era muito mal avaliado, mas venceu as eleições. Avaliação e voto na urna nem sempre combinam. Eu penso que há um sentimento de que Salvador pode mais. A atual gestão tem seus méritos? Tem. Mas pode ser diferente. Repare, precisa desafetar 160 áreas verdes da cidade para entregar ao interesse privado e ao mesmo tempo garantir investimentos na cidade? Não. Foram mais de 950 mil metros quadrados de Salvador privatizados sem necessidade e sem debate com a sociedade. Salvador pode ser diferente, pode estar alinhada às melhores práticas sem ser vendida a uma panelinha. Pode se integrar às políticas públicas de proteção social de Lula e Jerônimo, combater a fome e a pobreza sem abrir mão do turismo? Pode. Pode apostar em soluções modernas de transporte público, como o metrô e o VLT, e acabar com os engarrafamentos e com o tempo de vida que a trabalhadora e o trabalhador perdem nos buzus? Claro que pode. Pode gerar emprego e renda para quem está desempregado ou na informalidade? Deve. Então não se trata de zerar ninguém. Mas de reconhecer que pode ser diferente, pode ser mais humano, cuidar de quem mais precisa e gerar oportunidades para toda a nossa gente, e não apenas uma pequena parcela da cidade.

Feira de Santana é um caso emblemático: apesar dos enormes problemas da cidade, José Ronaldo desponta como o favorito nas pesquisas preliminares para mais um mandato. O grupo político dele está no poder há décadas. Qual será a estratégia do PT na cidade? A figura do presidente Lula ajudará?

Éden Valadares – Feira quer mudança e agora a história é diferente. Estou muito convencido que a história é diferente. Em 2020 havia uma pandemia, o prefeito era candidato à reeleição e podia rasgar a máquina em obras e contratações, o presidente era Bolsonaro e Jerônimo não era governador. Repare, veja qual é a nossa leitura. Hoje Lula é presidente e estará de corpo e alma na campanha de Zé Neto. Jerônimo é governador e ele é um apaixonado por Feira. Aliás, ele mora e trabalha, porque é professor da UEFS, em Feira. E Zé Neto bateu na trave em 2020, com a maior votação que ele já teve para prefeito, e em 2022 foi o deputado federal mais votado da história da cidade. Some a isso tudo o que você falou, a cidade enfrenta enormes problemas gerados pelo atual grupo de Zé Ronaldo e Colbert. Então agora é outra pegada, outra história. Zé Neto tem a melhor largada e Zé Ronaldo a pior das últimas eleições. Feira de Santana não vai perder a chance de resgatar sua autoestima, de voltar a ter orgulho de ser feirense e aproveitar a oportunidade de ter um prefeito, um governador e o presidente trabalhando pela prosperidade do seu povo.

Qual a expectativa de crescimento do PT na Bahia como um todo, em relação a prefeitos? Quantos prefeitos tem hoje e quantos pretende eleger?

Éden Valadares – Olha, a expectativa é muito boa. Com humildade, com a maturidade de quem sabe que quem decide é o povo, é o voto, são as urnas, mas posso te dizer que estamos animados. 2016 e 2020 foram anos muito difíceis para o PT e a esquerda como um todo. Golpe em Dilma, perseguição, condenação, prisão e impedimento do Lula disputar. Enfim. Mas de lá para cá, Dilma provou que o impeachment foi uma farsa, os tribunais nacionais e internacionais provaram que a perseguição a Lula era uma fraude, Lula se elegeu e nós vencemos a eleição mais emblemática da história da Bahia com Jerônimo: o filho da costureira e do vaqueiro contra o herdeiro. Então, não nego, o prognóstico é bom. Elegemos 32 prefeitos na eleição passada e esperamos dobrar esse número este ano. Mas a fórmula para isso é humildade, conversa, diálogo e muito trabalho, trabalho e trabalho.

Aproveitando, e quanto a Lauro de Freitas e Camaçari?

Éden Valadares – Lauro é a maior prefeitura administrada pelo PT Bahia hoje, prioridade nacional do partido e vamos ter uma dedicação especial nessa eleição. Acredito que escolhemos muito bem o candidato, Rosalvo, um cara que circula bem por toda a cidade, um cara de fácil diálogo, sabe falar desde o empresário até o trabalhador, e que foi aprovado por onde passou. Seja na política enquanto vereador, seja na gestão como secretário. Camaçari é o furacão Luiz Carlos Caetano. Caetano é um animal político, uma força da natureza, alguém com uma capacidade de trabalho e de dedicação impressionantes, e um cara absolutamente apaixonado por Camaçari. Chegou a hora de tirar Camaçari da contramão, virar a chave, e percebo esse sentimento muito forte na cidade. Eu moro em Lauro, com meus filhos, minha família, mas estou sempre em Salvador e Camaçari. Acredito que vai dar PT nas duas, o presidente Lula e o governador Jerônimo também acreditam, e vamos trabalhar muito para isso.

Apesar de ainda faltarem dois anos, já se fala sobre 2026. O senador Angelo Coronel, por exemplo, disse que quer estar na chapa e se reeleger para o Senado. Ele também endossou o nome do ministro Rui Costa para a outra vaga. Qual sua opinião sobre essa questão?

Éden Valadares – Confesso que não vi essa declaração. Mas minha opinião é que, como aprendi lá em Ribeira do Pombal, na escola agrícola, há tempo de plantar e há tempo de colher. Tá cedo para falar de 2026. As eleições de 2024 sequer começaram, não tem nem campanha, e já tem gente tentando antecipar. Eu posso te dizer assim, repare, Lula é candidato à reeleição e Jerônimo também. Queremos seguir reconstruindo o Brasil e abrindo um ciclo para a nova Bahia. Essa é nossa prioridade. Esse é nosso objetivo e missão. Para que isso aconteça, a gente quer fortalecer o PT, mas também os aliados. Quem vai jogar de goleiro, de lateral, de atacante, de senador, deputado, a gente vê lá na frente. O senador Wagner é minha principal referência na política e na vida. E ele me ensinou que Deus nos deu dois ouvidos e somente uma boca à toa. É preciso ouvir mais do que falar. Então vamos deixar a água passar por debaixo da ponte, vamos seguir com humildade e trabalhando muito, esperar o resultado das urnas e depois a gente vê. Mas insisto, nossa meta é fazer Lula e Jerônimo vencerem as eleições em todas as cidades da Bahia. Seja com um petista, seja com um aliado, desde que estejam conosco nessa caminhada e impeçam a volta do carlismo ou do bolsonarismo.

As eleições deste ano serão também um teste de força tanto para o PT e Lula quanto para o bolsonarismo?

Éden Valadares – Rapaz, eu acho que sua pergunta deveria ser feita a Bruno Reis e ao ex-prefeito ACM Neto. São eles que desde 2022 negam, ou tentam negar, a influência das eleições nacionais na Bahia. O país está polarizado, essa é a realidade. Gostemos ou não, todo debate político no Brasil é se você votou em Lula ou não, se você gosta de Lula ou não. Parece que a eleição não acabou. É assim na sua rua, na igreja, no baba, na escola, na faculdade, no bar ou na reunião de vizinhos. Bruno Reis votou em Bolsonaro e tem o apoio dele. Geraldo votou em Lula e tem o apoio de Lula. Daí o eleitor e a eleitora vão decidir qual time apoiar. O tanto faz de Neto não colou. Perdeu e não processou muito bem a derrota porque ele não entendeu que precisa ter coragem para se posicionar. Se de novo faltar coragem e sobrar salto alto, se de novo faltar posição e sobrar dubiedade, olha aí nossa chance. Bruno Reis votou em Bolsonaro e tem o apoio de Bolsonaro, Geraldo votou em Lula e tem o apoio de Lula. Essa é a verdade. Se tentar enganar o povo com relação a isso, vai dar ruim. A conferir.

Por Guilherme Reis, Henrique Brinco e Paulo Roberto Sampaio Tribuna da Bahia