“Qual a culpa que uma criança tem na falha de um adulto?”. Assim respondeu um dos parentes da pequena Sarah Sofia Santana de Jesus, ao ser questionado sobre o motivo da menina de seis anos ter morrido, após ter sido baleada na cabeça na madrugada deste domingo (1) no bairro da Mata Escura. Segundo ele, um “bonde” (grupo de homens armados) invadiu a casa onde vítima estava, em busca do enteado da mãe dela, que consegui escapar.

O alvo seria o filho do padastro de Sofia. “Ele tinha envolvimento. Quando percebeu que os caras estavam chegando, ele correu. A gente não sabe se ele morava lá também ou se estava só de passagem”, relatou o parente da criança, que preferiu não se identificar. O crime aconteceu na localidade conhecida como Inferninho. De acordo com moradores, a região é controlada pelo Bonde do Maluco (BDM), que disputa a liderança do bairro com o Comando Vermelho (CV).

No ataque, Sofia foi baleada na cabeça e chegou sem vida na UPA de Jardim Santo Inácio, mas não resistiu. O padastro dela, um eletricista, foi atingido duas vezes, sendo que um dos tiros atingiu a barriga. Ele também deu entrada na mesma unidade, mas devido à gravidade, foi transferido para o Hospital Geral do Estado (HGE). Não há informações sobre o estado de saúde dele.

Na hora dos disparos, Sofia e o padastro dormiam junto com a mãe da criança, que, apesar das circunstâncias, saiu ilesa. Ela estava pela manhã no Instituto Médico Legal (IML) para liberar o corpo da filha e preferiu não falar sobre o assunto.

Uma outra versão para o crime surgiu com o compartilhamento de um áudio no grupo de Whatsapp. A gravação é de uma mulher dizendo que os criminosos foram atrás de um homem que havia estuprado a criança, situação que, inicialmente, não foi levantada pelos parentes da vítima.

Em nota, a Polícia Civil informou que o crime foi cometido por homens armados que invadiram o imóvel, mas que autoria e motivação são investigadas pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).

Ataque

O ataque aconteceu pouco depois da meia noite na Rua das Mangueiras. Os criminosos quebraram a porta de vidro e começaram a a atirar. Depois dos disparos, eles reviraram a casa e depois fugiram. Segundo os moradores, o cenário do imóvel é de terror. “Sangue por todo canto da casa. Tudo revirado. Algo que nunca vou esquecer”, disse uma das poucas pessoas que comentaram sobre o caso. “Nós não podemos dar mais detalhes, porque aqui a ‘lei do silêncio’ é o que garante a nossa sobrevivência”, disse ele, na manhã deste domingo (1).

No IML, parentes de Sofia estavam abalados com a tragédia. “Era uma criança, tinha muito futuro pela frente. Morreu de uma forma tão trágica. Não tinha nada a ver com a situação”, declarou. Diante da situação, a mãe da criança deve abandonar a casa. “Ela está com muito medo. Já disse que não quer ficar mais lá. Não tem condições psicológicas de permanecer no local”, comentou o parente.

A mãe de Sofia é separada do pai da criança e há cinco anos casou com o eletricista. Parentes dela disseram que não tinham contado com o marido da mãe da criança. “Ele é muito fechado, não era de muita conversa. Também muito ciumento e não gostava da aproximação da família”, relatou.

O enterro de Sofia será nesta segunda-feira (2). “Provavelmente, em um cemitério municipal. Como o crime aconteceu no Cabula, normalmente o sepultamento é feito em Pirajá, Itapuã ou Brotas”, disse um funcionário do IML. Correio da Bahia