A mudança na estratégia de defesa do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB), que optou por tentar um acordo de delação premiada com o MPF — a informação foi revelada pelo colunista Laura Jardim, sofreu nova reviravolta. As negociações aconteceriam entre o advogado João Kappen, o MPF e a Procuradoria-Geral da República, mas, na noite deste domingo, ele informou ao Globo que outro escritório vai assumir o caso.

 

Há duas semanas, ele havia recebido uma procuração do ex-governador para representá-lo nas conversas com as autoridades. Não foi a única baixa. O advogado Rodrigo Roca, que assumiu as ações em meados de 2017, resolveu deixar o caso também neste domingo. Ele não concorda com os novos planos do ex-governador segundo informações do jornal O Globo.

Com a recente condenação em segunda instância na Operação Calicute e a colaboração premiada de Carlos Miranda, seu ex-operador financeiro, Cabral viu estreitarem os caminhos de sua defesa pelas vias fora da delação. Filho de Cabral, Marco Antônio Cabral não respondeu aos contatos da reportagem para falar sobre as alterações na defesa. Entre as promessas do ex-governador, estão revelações sobre corrupção no Poder Judiciário.

 

E também entre ex-integrantes do alto escalão do Ministério Público do Estado do Rio — o ex-procurador-geral de Justiça Cláudio Lopes chegou a ser preso sob a acusação de receber uma mesada para proteger o ex-governador. Também está no cardápio a confissão sobre a compra de votos para a organização dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.

 

O esquema já foi alvo do MPF na Operação Unfair Play — Cabral é réu no processo —, e a possível nova postura sobre os Jogos representaria uma mudança brusca em relação a outras declarações dele sobre o tema. Professor de Direito Penal da UFRJ, Francisco Ortigão explica que os benefícios estarão relacionados com a “efetividade” dos depoimentos.

 

— Nos processos em que já foi condenado, ele pode ter uma progressão de regime diferenciada. Em cima de novas revelações, é possível ter perdão em determinados crimes e redução de até dois terços na pena privativa de liberdade. A possível delação representa uma nova alteração na estratégia de defesa de Cabral, cujas penas somadas na Lava-Jato já ultrapassam 197 anos.

 

No início, o ex-governador negava ter cometido qualquer crime; depois, passou a admitir que usou para fins pessoas recursos de caixa dois de campanhas eleitorais; recentemente, decidiu ficar em silêncio nos depoimentos — na semana passada, uma audiência da Operação Ponto Final foi adiada após Cabral e outro réu informarem que não responderiam às perguntas. Em outro momento, Cabral chegou a propor a autoridades da Lava-Jato a confissão de crimes em troca da prisão domiciliar, mas a conversa não prosperou.