Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

A deputada Duda Salabert (PDT) disse na terça-feira (29) acreditar que a Polícia Militar do Distrito Federal teria outra postura se, em vez de bolsonaristas radicais, fossem professores nas manifestações do dia 8 de janeiro em Brasília. A parlamentar deu a declaração durante a sessão da CPI dos Atos Golpistas, na qual os parlamentares interrogaram o coronel da PM-DF Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da corporação.

Fábio Vieira está preso desde 18 de agosto, após operação da Polícia Federal sobre omissão da cúpula da PM nos atos antidemocráticos. Ele chefiava a força de segurança no dia 8 de janeiro. Em um determinado momento da reunião da CPI, Duda Salabert questionou ao coronel: “Por que que a Polícia Militar acaba sendo tchuchuca com golpistas e, de outro lado, é tigrão com professores?”.

“O que chamou a atenção foi a omissão da PM. E eu fico me perguntando, se fossem professores que estivessem naquela manifestação, se a PM agiria daquela forma que agiu com os golpistas. Eu sou professora e já participei de diversas manifestações. E [fui] recebida com bombas de gás lacrimogênio. Professoras amigas minhas foram violentadas e agredidas pela PM por cobrar melhor educação no país”, acrescentou Duda Salabert.

O militar não respondeu à pergunta e, assim como nos demais questionamentos feitos a ele nesta terça, permaneceu em silêncio. Para explicar a decisão de ficar em silêncio na CPI, o coronel da PM alegou que não teve acesso à íntegra das investigações.

‘Desbolsonarizar as forças de segurança’

Para Duda Salabert, o Brasil tem, como desafio, “desbolsonarizar as forças de segurança” do país. Na avaliação da parlamentar, houve uma “ideologização” das Forças Armadas e das polícias no governo passado.

“Foi ruim não só para a democracia, não só para o país, mas ruim para as forças de segurança, porque acabou manchando parte da história delas, atrelando as forças a uma tentativa de golpe”, declarou a pedetista. “Tivemos um presidente, o Jair Bolsonaro (PL), que queria transformar as forças de estado em milícias de governo. Era essa a intenção”, completou.

Quem é Fábio Augusto Vieira?

O coronel Fábio Augusto Vieira e outros seis ex-integrantes da cúpula do Polícia Militar do DF foram presos e denunciados pelos crimes de:

  • abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • golpe de Estado;
  • dano qualificado;
  • deterioração de patrimônio tombado;
  • infração à Lei Orgânica e ao Regimento Interno da PM.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), a cúpula da PM deixou de agir para impedir o vandalismo contra as sedes dos Três Poderes, em razão do alinhamento ideológico com os manifestantes golpistas.

A acusação afirma que os militares sabiam “‘antecipadamente de riscos de atentados'”, e ainda assim não agiram para impedi-los, e até “estimularam” o ingresso de golpistas no Congresso Nacional. A PGR também encontrou mensagens com teor golpista e com ataques às instituições democráticas nos celulares dos investigados.

Vieira já havia sido preso em janeiro por suposta omissão nos atos. Em fevereiro, o ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos que apuram os ataques no STF, concedeu liberdade provisória ao militar.

À época, Moraes apontou que Vieira “não teria sido diretamente responsável pela falha das ações de segurança que resultaram nos atos criminosos ora investigados”. A PM e o governo do DF são responsáveis pela segurança dos prédios do governo federal e de outros Poderes em Brasília.

Em depoimento na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF, o ex-comandante-geral da PMDF culpou a falta de planejamento operacional pelos problemas na contenção dos ataques. G1