A revista Crusoé teve acesso à íntegra da apuração da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a relação de Dias Toffoli com as empreiteiras Odebrecht e OAS. Os documentos trazem novos capítulos do suposto envolvimento do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) com Marcelo Odebrecht. O contato mais intenso de representantes da empreiteira com Toffoli teria se dado antes de ele assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal e prosseguiu após o advogado alcançar a cadeira.

“Em outubro do ano seguinte, ao ser alertado sobre um assunto de interesse da empreiteira que guardava relação com o Supremo, Marcelo voltou a cobrar: ‘Temos mantido a relação?’. ‘Desde que assumiu nova posição adotou postura muito cautelosa no contato conosco, direcionando eventuais demandas a intermediários’, devolveu Adriano Maia”, pontua a revista. Maia era um dos subordinados de Marcelo Odebrecht.

A apuração preliminar dos procuradores mostra que, com a anuência de Toffoli, a Odebrecht usou sua velha máquina de lobby no Congresso Nacional, aquela mesma que abastecia parlamentares com polpudas propinas, para ajudar na aprovação do nome do ministro para assumir a cadeira no Supremo, em 2009″, destaca a publicação.

Em setembro de 2009, dias após Toffoli ser escolhido por Lula para ocupar uma vaga no Supremo, Marcelo Odebrecht e Adriano Maia se articulam para ajudar no processo de aprovação do ministro pelo Senado. Marcelo confirma que Toffoli aceitou a oferta.

A SAGA
O caso reapareceu na imprensa após abril de 2019, quando uma reportagem da revista intitulada “O amigo do amigo de meu pai” foi censurada pelo ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news. Segundo o empreiteiro Marcelo Odebrecht, o codinome fazia referência a José Antonio Dias Toffoli que à altura da troca de mensagens ocupava o posto de advogado-geral da União. Toffoli deixou a presidência do STF na última quinta-feira (10) após o ministro Luiz Fux assumir o posto.

“Os procuradores viram nesse conjunto de e-mails indícios suficientes para apurar, nas palavras deles, ‘o possível cometimento de fato penalmente relevante por José Antonio Dias Toffoli, praticado à época em que ocupava o cargo de advogado-geral da União’. As trocas de mensagens, com a devida contextualização, chegaram a ser reunidas em uma peça bem-acabada que deveria ser enviada na sequência a Edson Fachin pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, pedindo a abertura de um procedimento específico para apurar as suspeitas relacionadas a Toffoli. Não se tem notícia, até hoje, de que Aras tenha dado o devido encaminhamento ao material. Em vez de serem reconhecidos pela coragem da iniciativa, os procuradores que realizaram o trabalho só tiveram problemas — em junho passado, eles pediram demissão coletiva e deixaram o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR por discordarem do animus de Augusto Aras em relação à operação”, destaca a Crusoé.

A íntegra do material reunido pelos investigadores e à gravação de um depoimento sigiloso no qual, por quase quatro horas, dois dos integrantes da então equipe da Lava Jato na PGR, com autorização do ministro Edson Fachin, ouviram Marcelo Odebrecht sobre os arquivos relacionados a Toffoli.

“Conjugados os e-mails e as respostas prestadas em viva-voz por Marcelo Odebrecht, é possível saber, por exemplo, que a empreiteira pagou caro a um escritório de advocacia indicado pelo próprio Toffoli para ‘intermediar’ a relação com ele. Marcelo Odebrecht não chega a cravar, com todas as letras, que essa era uma forma de repassar dinheiro ao ministro, mas afirma que os e-mails, que sugerem a existência de um esquema para remunerar os favores por meio do tal intermediário, são claros. O empreiteiro também relata que era comum o envio de presentes a Toffoli e conta que, em pelo menos duas ocasiões, se reuniu pessoalmente com ele, fora de agenda oficial, para estreitar a relação e para tratar de assuntos de interesse da companhia — um dos encontros foi na casa do ministro, em Brasília, e o outro no apartamento de um advogado indicado como “intermediário” da relação.