Aliados do prefeito ACM Neto (DEM), o secretário municipal da Educação de Salvador, Bruno Barral, e o atual presidente da Fundação Gregório de Matos, Fernando Guerreiro, refutaram e pregaram cautela ao responderem a possibilidade de “fiscalização ideológica” na Bahia por parte do próximo governo federal. As secretarias de Educação e Cultura do Governo Estadual não quiseram comentar o assunto.

 

A ideia, com ares de patrulha ideológica, foi ventilada pela deputada federal eleita Dayane Pimentel (PSL-BA) ao comentar a atuação do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) como um “fiscalizador da agenda cultural e intelectual” no estado. A presidente do PSL baiano também revisou a fala, ao dizer que a fiscalização também será feita por eleitores.

 

“O que tem que se fiscalizar é o tempo que o aluno está levando em sala de aula. Tem que fiscalizar a qualidade estrutural das escolas, a didática, a remuneração dos professores, que precisa aumentar, a condição das escolas, a qualidade da merenda escolar, a interação com a comunidade… Eu acho que são tantos itens que necessitam de fiscalização”, comentou Fernando Guerreiro, presidente da fundação cultural Gregório de Matos segundo o BN.

 

Para Guerreiro, a “questão do gênero”, demonizada por Dayane, é “completamente segundo e terceiro plano”. “Na verdade, se você olhar bem, isso é uma coisa se criou, um factoide. Não existe isso. Não está sendo debatido em escola nenhuma. É um delírio”, defendeu o presidente que também garantiu que sairia da pasta, caso tivesse que exercer o papel de “patrulhador da arte”.

 

No grupo de ACM Neto, que tem se aproximado do governo de Bolsonaro na última semana, Barral comentou que ainda é cedo para qualquer pessoa falar em nome do presidente eleito e defendeu a lisura do que tem sido praticado dentro das escolas de Salvador.

 

“Dayane é professora, tem minha maior admiração e espero que seja uma voz dentro da Câmara Federal representativa dos interesses da educação de forma geral. Mas ela sabe como funciona todo um trabalho dentro de uma secretaria, todo um trabalho do professor, que vai para além de qualquer tipo de fiscalização, de controle desmedido”, falou Barral.

 

Barral ainda disse que não permitiria, como secretário, o cerceamento do trabalho do professor. “O direito dos professores é fundamental. O professor é nosso maior pilar, é ele que constrói, ele é hoje o mediador do conhecimento com os alunos. É uma profissão que tem que ser respeitada de fato e de direito”, disse. Oposição a Bolsonaro, as secretarias do governo do petista Rui Costa não comentaram a declaração de Dayane Pimentel. Na quarta-feira (31), a Secretaria de Comunicação (Secom) do Estado enviou uma nota afirmando que a Bahia não aceitaria qualquer censura a cultura.

 

“O Governo do Estado não vai permitir qualquer tipo de fiscalização da agenda cultural e intelectual da Bahia. Também serão respeitados o processo criativo e a livre manifestação das pessoas. A Secom classifica como infeliz a declaração política com intuito de censurar iniciativas culturais dos baianos e baianas. A referida declaração precisa ser devidamente esclarecida. Projetos que visem o desenvolvimento social e intelectual serão sempre apoiados e protegidos pelo Governo da Bahia”, pontuou a nota.

 

Após a repercussão da fala, Dayane Pimentel voltou a comentar e dar mais detalhes sobre a “fiscalização de Bolsonaro”. “Fiscalizar não é censurar”, ponderou. A futura deputada federal disse que o papel de patrulha não será apenas do presidente eleito, mas de seus correligionários e do povo.

 

“Fui eleita e de forma expressiva, sendo votada em todos os municípios da Bahia, justamente porque defendo a liberdade de expressão e digo não a qualquer tipo de censura, prática comum na Venezuela e em Cuba. Fiscalizar os recursos federais aplicados em qualquer área é papel fundamental de um bom político, e na Bahia não será apenas Bolsonaro, mas seus correligionários e também o povo. Bahia Notícias