Quase um mês após a morte do pastor Anderson do Carmo, casado com a deputada federal Flordelis (PSD), ainda está em aberta a investigação sobre quem estaria envolvido e sobre as motivações que levaram à morte. Dois dos filhos seguem presos na Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo: Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, que teria admitido ter disparado seis tiros no padastro; Lucas dos Santos, que teria comprado a arma do crime.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro não dá informações sobre o caso, que corre sob sigilo. Mas, segundo a delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia, todas as pessoas que estavam no local no dia do assassinato estão sendo investigadas. A defesa de Flávio chegou a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) o acesso à íntegra do inquérito sobre o crime, o que foi concedido pela Polícia Civil no começo da semana.

Inicialmente, a defesa quer Flávio seja levado para um presídio e não permaneça na delegacia. Outro pedido é tornar nula a declaração na qual ele confessou ter disparado contra o padrasto. “Ele declara a todo tempo que não prestou aquele depoimento. Ele teve as razões para assinar, mas não foi espontâneo”, destacou o advogado Anderson Rollemberg em entrevista ao G1. Ele também quer que um novo depoimento seja prestado.

As dúvidas que ainda pairam no caso:

Onde está o celular do pastor?

O telefone celular do pastor, que poderia dar alguma pista sobre a motivação e autoria do crime, ainda não apareceu. De acordo com a investigação, ele foi usado horas depois da morte.

Pelo menos duas mensagens foram repassadas do aparelho. Os textos foram repassados às 9h e às 10h07 de domingo (16), quando o pastor já estava morto.

No dia 26 de junho, cerca de 20 celulares de pessoas que estavam na casa da deputada foram apreendidos.

No mesmo dia, um mototaxista prestou depoimento e contou que viu uma das netas da deputada Flordelis jogar um aparelho no mar. Ela também foi ouvida pelos policiais sobre o episódio e disse que foi realmente à praia no dia indicado, mas que teria ido “para relaxar”.

Por que foi acesa uma fogueira no quintal da casa da família?

No dia 18 de junho, a Polícia Civil fez buscas na casa do casal e encontrou uma pistola. Os policiais também tentaram salvar objetos que estavam em uma fogueira feita no quintal da casa.

Apesar de ainda haver fogo, a maior parte do que havia sido queimado já tinha virado cinzas. O material foi encaminhado para a perícia.

Os investigadores tentam saber por qual motivo foi feita uma fogueira no quintal e o que teria sido queimado.

Lucas estava na casa durante o crime?

Imagens de câmeras de segurança obtidas com exclusividade pela TV Globo mostraram a movimentação na casa da deputada federal Flordelis antes e depois do crime.

Segundo as imagens, os investigadores acreditam que ele não presenciou o crime. Às 2h52 de domingo, dia do crime, um dos filhos entra sozinho na casa de Flordelis. Às 3h08, quem aparece nas imagens é outro filho, Lucas dos Santos, de 18 anos, que desce de um carro. Às 3h15, Lucas sai andando da casa dos pais.

Segundo investigadores, ele pegou um carro de aplicativo e foi para um bar. O motorista confirmou a versão.

O casal Flordelis e Anderson só chega na casa dez minutos após a saída, às 3h25. O pastor foi morto minutos depois.

Lucas é suspeito de ajudar a comprar a arma usada no crime. A dúvida que paira é sobre uma entrada nos fundos. A polícia ainda não sabe se ele ou outra pessoa teria usado essa entrada.

Flávio, o outro filho preso durante as investigações, aparece nas imagens às 3h40, sai correndo da casa e entra em um carro. Anderson já tinha sido assassinado. Ele disse aos policiais que foi procurar uma viatura da PM para pedir ajuda. Segundo os investigadores, era uma tentativa de afastar suspeitas.

Flordelis teve alguma participação no caso?

No dia 21 de junho, a delegada responsável pelo caso, Bárbara Lomba, afirmou que todas as pessoas que estavam na casa no dia do crime são algo das investigações, inclusive a deputada Flordelis.

“Não podemos descartar ninguém que estava próximo da cena do crime. Provavelmente, a motivação do crime é relacionada a uma questão que envolve a família, mas não se sabe de que natureza. Tudo indica que tem relação com as relações familiares, quem convivia com a vítima”, disse ela.

Em entrevista, a deputada afirmou que sempre prestou depoimento na condição de testemunha. Ela negou a possibilidade de que a morte fosse motivada por uma relação extraconjugal de Anderson.

“Se for provado que foram os meus filhos, eu quero saber o porquê. Nós estávamos vivendo um momento de harmonia na nossa casa. Eu preciso da resposta, do motivo. Se foi um dos meus filhos, eu quero que ele seja punido. Porque eu não perdi um marido, perdi um parceiro, um amigo. Eu quero justiça”, destacou a parlamentar.

Ela afirmou que, como muitas pessoas entraram na casa, algumas coisas foram subtraídas.

Anderson foi morto com quantos tiros?

O laudo do Instituto Médico-Legal aponta que o corpo tinha 30 perfurações de entrada e saída de disparos. Oito disparos foram feitos na região do peito e um tiro foi na cabeça, feito à curta distância.

Segundo a polícia, essa informação aumenta a possibilidade de que o criminoso tenha atirado com a intenção apenas de matar o pastor.

“Devido à multiplicidade dos disparos, não foi possível determinar quais lesões seriam de entrada e quais seriam de saída”, escreve o perito. G1