Especialistas ouvidos pelo Correio elencam alguns motivos possíveis para o crescimento no número de casos de dengue no estado nos primeiros 18 dias de 2019. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), foram registrados 400 casos contra 204 no mesmo período do ano passado – um aumento de 94,1%.

O professor da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Salvador, o infectologista Antônio Bandeira comentou que, sempre que há um surto de vírus como zika ou dengue, há, em seguida, um momento de pausa na incidência dos casos, o que aconteceu entre 2015 (surto da zika) e 2018 (menos casos registrados).

“As pessoas infectadas acabam desenvolvendo certa imunidade, mas ela não é eterna e vai caindo aos poucos, até, novamente, estar propícia à transmissão”, explicou o infectologista.

Esse período, segundo Bandeira, pode ter uma variação de dois a cinco anos – justamente o espaço de tempo em que foi constatada a alta no número de notificações. “É sempre esperada uma caída depois de um surto. Esse é só um dos pontos, porque não há, de fato, como cravar o porquê. Os mosquitos estão aí e são adaptados ao Verão, à temperatura em que nós vivemos”, disse Bandeira.

Segundo a sanitarista da Vigilância Epidemiológica da Sesab, Akemi Chastinet, a circulação do vírus é algo “flutuante”. “Em alguns anos, ele circula com maior intensidade, sim. Tem, ainda, a questão de nascimentos, uma quantidade maior de pessoas, e isso faz aumentar o número de casos, naturalmente”, afirmou Akemi.

Números
A Sesab divulgou nessa quinta-feira (24) a lista dos 55 municípios onde foram registrados os 400 casos de dengue (veja abaixo). Feira de Santana encabeça a lista, segundo a Sesab, com 108 casos registrados em 2019, até o dia 18. Em seguida, está Salvador, com 45 registros, ainda segundo a Sesab.

Já um levantamento feito pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) revela um número maior para Salvador, entre os dias 1º e 24 de janeiro: 78 casos. Houve, no entanto, uma diminuição em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 200 casos na capital.

Por meio da assessoria, a SMS acrescentou que a distinção nos dados informados pelas duas secretarias pode ser explicada pelo número de notificações que são feitas e, posteriormente, reavaliadas.

Verão
A época do ano é favorável: o Aedes aegypti se prolifera com mais facilidade no Verão e a quantidade de mosquitos aumenta nos ambientes, o que não significa, necessariamente, o aumento da transmissão, já que para que isso ocorra é preciso que o mosquito esteja infectado.

Segundo a sanitarista da Vigilância Epidemiológica da Sesab, Akemi Chastinet, a circulação do vírus é algo “flutuante”.

“Em alguns anos ele circula com maior intensidade, sim. Geralmente, vamos ter anos de algo próximo ao surto e períodos posteriores de redução. Desde o início da década de 90, temos variáveis de dois a cinco anos, aproximadamente, de períodos epidêmicos”, completou.

Assim como Bandeira, Akemi pontuou que 2017 e 2018 foram anos considerados “tranquilos” quanto às notificações.

“Esse vírus circulou pouco porque, possivelmente, havia pouca gente suscetível à transmissão. Aí tem, também, a questão de nascimento, uma quantidade maior de pessoas, e isso faz aumentar o número de casos, naturalmente”, ponderou.

Para Akemi, há uma possibilidade de que 2019 dê um salto, considerando os dois últimos anos. “Analisando a grande quantidade já registrada, para nós, já está claro que é, sim, um ano que reserva um aumento de transmissão. Por isso, o acompanhamento”.

Como a dengue oferece risco de surtos e epidemias, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep), da Sesab, divulgou um alerta para os profissionais de saúde dos municípios.

Há um pedido de atenção, também, para as outras arboviroses transmitidas pelo mosquito: a zika e a chikungunya.

Entre as recomendações da Divep estão: alertar os profissionais para suspeição dos sinais e sintomas compatíveis com as arboviroses, além de mobilizar equipes de saúde para medidas de prevenção e controle.

Providências
A Sesab informou, ainda, que intensificou as ações contra o Aedes aegypti desde o final de dezembro de 2018, quando foram distribuídos 7.400 kits para serem utilizados pelos agentes de controle de endemias nos 417 municípios. Foram investidos mais de R$ 2,6 milhões no material usado pelos profissionais, composto por itens como pesca-larva, pipetas de vidro, tubos de ensaio e álcool.

O secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, ressaltou que “construir uma estratégia agressiva de combate ao mosquito e controle dos agravos é fruto de um esforço conjunto do poder público, empresas e sociedade em geral, visto que mais de 80% dos focos estão dentro das casas”.

Veja lista de municípios e número de casos, segundo a Sesab:
Feira de Santana – 108
Salvador – 45
Macaúbas – 39
Ipupiara – 33
Paramirim – 32
Lençóis – 9
Mucuri – 10
Wagner – 10
Itabuna – 9
Luís Eduardo Magalhães – 9
Sebastião Laranjeiras – 9
Tanquinho – 9
Barreiras – 6
Governador Mangabeira – 5
Correntina – 4
Cristópolis – 4
Dom Basílio – 4
Boquira – 3
Camaçari – 3
Canarana – 3
Juazeiro – 3
Santa Bárbara – 3
Antônio Cardoso – 2
Brumado – 2
Casa Nova – 2
Jequié – 2
Remanso – 2
Riacho de Santana – 2
Santa Cruz Cabrália – 2
Adustina – 1
Barra – 1
Boa Vista do Tupim – 1
Cafarnaum – 1
Campo Alegre de Lourdes – 1
Candeias – 1
Caturama – 1
Conceição do Coité – 1
Curaçá – 1
Guanambi – 1
Ibipitanga – 1
Ibirapuã – 1
Ibirataia – 1
Ilhéus – 1
Itaguaçu da Bahia – 1
Itanhém – 1
Jacaraci – 1
Jacobina – 1
Lauro de Freitas – 1
Livramento de Nossa Senhora – 1
Malhada de Pedras – 1
Palmeiras – 1
Porto Seguro – 1
São Gonçalo dos Campos – 1
Serrinha – 1
Souto Soares – 1

(Correio da Bahia)