EC Vitória

Atual presidente do Vitória, Fábio Mota é candidato a seguir no cargo pela chapa Reconstruindo o Vitória, que tem como vice-presidente Djalma Abreu. Eleito presidente do Conselho Deliberativo em 2019 na mesma chapa de Paulo Carneiro, Mota assumiu o atual posto de forma interina em outubro de 2021, após o afastamento do então vice-presidente Luiz Henrique Vianna, e foi efetivado na função em maio deste ano, quando ocorreu a destituição de Paulo Carneiro.

Advogado de formação e ex-secretário municipal de Salvador em diversas pastas (Cultura e Turismo, Transportes, Serviços Públicos) nas gestões de João Henrique, ACM Neto e Bruno Reis, o dirigente trabalha atualmente também na campanha do ex-prefeito ACM Neto ao governo do estado.

A entrevista com Fábio Mota fecha a série com os quatro candidatos à presidência do Leão, publicada pelo CORREIO ao longo desta semana. Algumas perguntas são iguais para todos e outras foram elaboradas especificamente para cada entrevistado, levando em consideração propostas e trajetória. A eleição acontecerá sábado (17), das 9h às 19h, no Barradão. O vencedor tomará posse em dezembro e irá gerir o clube de 2023 a 2025.

Por que você quer ser presidente do Vitória? 
Na verdade, eu assumi o Vitória dentro de uma circunstância, do afastamento do presidente, da renúncia do vice. Assumi o clube com cinco meses de salários atrasados, funcionários e jogadores, com a bolsa dos meninos da base também com cinco meses de atraso, com uma punição da Fifa por ter contratado e não ter pago o jogador Walter Bou, tive que montar uma equipe em 14 dias para poder disputar o Campeonato Baiano. Então, eu assumi na pior fase da história do clube, sem recursos em caixa, devendo a todo mundo, com elenco completamente desfeito, tendo em vista que os contratos da equipe que caiu para a Série C acabaram. Foi um desafio muito grande, nós arregaçamos as mangas, trouxemos de início 14 patrocinadores, isso soma mais de R$ 8 milhões, o que permitiu que a gente fizesse a adequação financeira do clube, regularizamos salários de funcionários, de jogadores, a bolsa dos meninos da base.

Eu estou há 10 meses no clube, 10 meses sem atrasar salários. Tivemos toda uma readequação de despesas e organização de gestão, fizemos um saneamento da questão fiscal, porque quando eu assumi o clube devia R$ 117 milhões de imposto de renda retido e INSS à Receita Federal. Nós conseguimos adequar o clube à Lei de Eventos (PERSE) e conseguimos uma economia de R$ 57 milhões, um desconto pelo fato de ter conseguido essa adequação. O Vitória passou a dever R$ 59 milhões e parcelamos em 180 parcelas, isso foi muito importante, porque isso implicaria em bloqueios seguidos das contas e a gente conseguiu se livrar através dessa negociação. Da mesma forma, a Justiça do Trabalho. O Vitória devia R$ 30 milhões. Nós fizemos um novo acordo com a Justiça do Trabalho com os credores. Hoje com o parcelamento a gente paga R$ 60 mil por mês. O Vitória devia também ICMS e nós fizemos um acordo com a Secretaria da Fazenda do Estado e parcelamos. Devia também FGTS e fizemos um acordo com a Caixa Econômica Federal e parcelamos. Estamos esses 10 meses no clube só reconstruindo. Fizemos um prédio inteiro para a base, construímos e inauguramos no CT profissional as arquibancadas de 1.200 pessoas, o que vai nos ajudar na conservação do gramado do Barradão, como também serve para locação, tendo em vista que estamos na Série C e que não temos recursos provenientes de televisão. Ainda dentro dessa linha de reconstrução, nós estamos construindo agora os camarotes, são oito. A gente pensa em arrecadar R$ 800 mil por ano de camarote.

Então, nesses 10 meses o que a gente fez foi só reconstruir o clube. Tudo isso é para dizer porque eu resolvi ser candidato. Porque o Vitória não aguenta mais aventura, não aguenta mais descontinuidade. Nós tivemos sete presidentes em sete anos e o risco é muito grande de entrar mais um aventureiro, mais um que não tenha planejamento. Hoje, para ser presidente do Vitória, você tem que ter relações institucionais com a sociedade civil, com os entes federativos, com as confederações nacional e internacionais, e eu não vejo perspectiva dos que aí estão candidatos tocar esse projeto.

De onde tirar dinheiro para investir em 2023 caso o time não conquiste o acesso à Série B este ano?
Quando nós assumimos, o clube tinha 4 mil sócios. Hoje, tem 10,5 mil sócios, é uma prova cabal de que a torcida abraçou o projeto, um projeto transparente, então uma das fontes principais é aumentar a quantidade de sócios, o que vem acontecendo mês a mês.

Segundo é buscar outras fontes de receita, como a construção dos camarotes, a reforma do CT pra proporcionar aluguel. Nós fomos buscar através do Bitci, que é um parceiro nosso (patrocinador do clube), a criptomoeda do token, nós lançamos. Hoje a Seleção Brasileira tem, o Coritiba, que está na Série A, o Botafogo, que está na Série A, e o Vitória. Nós vendemos este ano R$ 2 milhões de token, o que permite o Vitória ter uma receita, no primeiro lançamento, de R$ 1 milhão. Nós acreditamos muito nesse projeto, é um projeto que já apareceram esses dividendos, a gente já tem a perspectiva de fazer novos lançamentos dessa plataforma que permite que o sócio e torcedor do clube possa comprar através da plataforma e valorizar ainda mais. O Vitória em duas horas conseguiu vender os R$ 2 milhões que colocou no mercado. Fomos buscar longe, fomos buscar fora, tem sido e vai ser a maior grande fonte de renda do clube.

Nós estamos buscando também os patrocinadores, além de manter os que trouxemos, os 14, com mais dois, 16 patrocinadores, nós estamos buscando novos, temos ações avançadas com dois grandes patrocinadores que vêm para investir no clube. Temos todo um planejamento de três anos para voltar para a Série A. E por isso que a gente começou fazendo o alicerce, reforçando a base, fazendo saneamento fiscal, trazendo recursos novos, para a gente ter esse plus a partir do próximo ano.

Após nova punição da Fifa, o Vitória está impedido de registrar atletas até junho de 2023. O clube precisa quitar uma dívida de 350 mil dólares (R$ 1,8 milhão) com o Boca Juniors, da Argentina, pelo não pagamento do empréstimo de Walter Bou. Quando e de que forma você irá solucionar esse problema?
O Vitória tem uma punição já definida, do Boca Juniors, pela Fifa, tem uma outra em tramitação, que é uma do Universidad Católica do Equador, pela transação de Jordy Caicedo. Nós não temos até dezembro nova competição, então não temos necessidade de fazer inscrição. A necessidade de fazer inscrição é a partir da próxima janela, que é em janeiro.

Nós estamos nos planejando e nos preparando para pagar a punição do Boca Juniors em janeiro e poder voltar a inscrever jogadores. Esses recursos do nosso planejamento vêm do token, vem do Bitci, que é a plataforma de lançamento do token, esse recebimento é parcelado e a ideia é com esse recurso pagar o Boca Juniors. No nosso planejamento, nós vamos fazer um fluxo de caixa para em janeiro quitar. Já propomos o parcelamento ao Boca Juniors de 30% e o resto em 10 vezes. Estamos aguardando a resposta. Na hora que a gente pagar a primeira parcela, volta a poder inscrever atletas.

Essa punição é só para novos atletas. Os contratos atuais de todos podem ser prorrogados. Se eu quiser prorrogar Rafinha, Dalton, eu posso. O que não pode é deixar terminar o contrato, tem que fazer a prorrogação antes do término. O contrato da maioria dos jogadores termina em outubro, então, quem a gente for renovar, tem que fazer antes do término.

Você pretende manter João Burse e a atual comissão técnica?
Hoje a gente tem uma base tanto de comissão técnica, como de atletas. Para o ano que vem a gente pensa em reforçar ainda mais essa base e, dentro do nosso planejamento, a nossa comissão técnica é com João Burse, com o diretor que já está, com auxiliares que aí estão. É evidente que tudo está apalavrado, mas o próprio João Burse vai aguardar essa decisão eleitoral para saber se ele vai continuar ou não, até porque ele já me disse que se eu sou o presidente do clube ele continua como treinador. E tantos outros jogadores que a gente já contactou.

Dado o atual cenário financeiro e futebolístico do clube, como você acha que pode deixar o Vitória após três anos de sua gestão, se for eleito?
Primeiro que a gente vai dar sequência ao que já está fazendo. Eu não estou prometendo terreno na lua nem emprego, como outros estão fazendo aí para fulano ou sicrano. Eu vou dar sequência ao que estou fazendo, concluir os camarotes, concluir a drenagem dos campos da base.

Na base, por exemplo, a gente pretende, a partir do ano que vem, voltar a participar dos torneios internacionais, que desde 2013 o Vitória não participa, do Dallas Cup, do Philips, e por aí vai. A gente tem que trazer e levar a imagem do clube, que é tão forte no cenário internacional, de volta. Para isso, a gente já está contactando com os parceiros internacionais, trocando conversas. Por isso que nós adequamos toda a nossa base, começamos desde o sub-9 até o sub-20. E dentro do planejamento, o maior alcance é voltar para a Série A, então eu pretendo na conclusão dos meus três anos deixar o clube na Série A, de onde nunca deveria ter saído.

Você pretende transformar o Vitória em SAF? Por quê?
Nós começamos fazendo o saneamento fiscal do clube. Não dá para falar em SAF se você está inadimplente com todos os órgãos federais. Resolvemos com a Receita Federal o parcelamento, saímos de uma dívida de R$ 117 milhões para R$ 59 milhões. Economizamos R$ 57 milhões, só aí o clube passou a valer mais a partir desse momento. Parcelamos as dívidas de ICMS, de FGTS, da Justiça do Trabalho. Hoje a gente tem essa parte fiscal toda controlada, com uma gestão muito responsável.

Então, no segundo momento nós estamos reformulando a nossa base, que é o nosso cartão postal, aumentando a quantidade de meninos. Com a construção dos camarotes, além da destinação que nós vamos dar dos recursos para a base, nós já estamos construindo um prédio administrativo. Todo o administrativo que está na base hoje vai descer para o prédio administrativo da sede do clube cá embaixo, no Barradão. Vai abrir espaço lá em cima pra gente fazer novos alojamentos, reformar os que já existem e a gente vai ter um ganho muito grande na nossa profissionalização da base, de qualidade também. Tudo isso é projetado para o que a gente pensa para o Vitória lá na frente. A gente acredita muito que a base, junto com a torcida, é o que vai nos tirar dessa situação.

Desde o final do mandato de Alexi Portela Júnior, em 2013, nenhum presidente eleito do Vitória conseguiu terminar o mandato, com exceção daqueles com caráter tampão. O que pretende fazer para que isso não aconteça com você também?
Eu me considero um gestor experiente. Já tive cargos em todas as esferas do poder, já passei por todo tipo de pressão. O amor ao clube é muito grande, é o que move estar no Esporte Clube Vitória. Eu não recebo salário por ser presidente do Vitória, eu não dou despesas quando viajo. O clube não paga minhas passagens pela situação em que se encontra nesse exato momento, por não ter condição. O salário de presidente que está estipulado de R$ 30 mil faz muita falta para o clube, eu estou há 10 meses que não recebo, ou seja, eu faço uma economia e esse recurso é investido na base, no pagamento da bolsa dos atletas. Então, dentro dessa linha, eu me considero preparado para assumir um desafio que não é fácil, dar seguimento ao projeto e espero concluir os meus três anos sim, entregando o clube na Série A.

Veja que quando eu assumi o clube, o Vitória é bem maior do que um clube de futebol, mas ele estava com o futebol feminino paralisado, montamos uma equipe de basquete de volta, já fomos campeão do Nordeste de basquete. O remo também passava por grandes dificuldades e nós já botamos o remo no trilho, voltamos a ser o maior campeão da Bahia. Temos outros projetos para a questão dos esportes olímpicos, estamos conversando com o COB (Comitê Olímpico do Brasil) para fazer um convênio e trazer de volta o karatê, o atletismo.

Na última eleição, em 2019, a sua chapa foi construída em torno de uma união de ex-dirigentes, caso de Alexi Portela Júnior, Ademar Lemos, Manoel Matos, e teve Paulo Carneiro como candidato à presidência. Essa união se desfez ao longo do mandato. Se eleito, você pretende ser mais independente, politicamente falando, ou conta com o apoio dos ‘cardeais’ no dia a dia do clube?
Eu nunca tive parente conselheiro, nem que tenha ocupado nenhum cargo no Esporte Clube Vitória. Eu me elegi presidente do Conselho Deliberativo pelo voto dos sócios, eu sou um democrata, defendo eleições diretas e foi eleição direta que me fez ser presidente do Conselho Deliberativo. O que me fez ser presidente do Vitória foi um pedido da própria torcida e do próprio sócio, que me pediram para ser presidente para dar sequência ao projeto. Não tenho grupo, não sou considerado de grupo A, B ou C. Eu sou um torcedor, como muitos tantos do Vitória, apaixonado pelo clube e que quer o bem do clube, que está tentando resgatar uma história de uma equipe centenária, que viveu tantas e tantas alegrias, a voltar para onde ele merece, a primeira divisão.

Você tem anos de experiência na vida pública e, atualmente, além de presidente do Vitória, trabalha na campanha de ACM Neto ao governo do estado. Está disposto a dar dedicação exclusiva ao Vitória a partir do ano que vem, se eleito?
Evidente que ninguém consegue gerir um clube sozinho. Desde o primeiro dia eu coordeno a equipe de trabalho. No Vitória você tem inúmeros conselheiros abnegados, que estão lá dentro ajudando, na área jurídica, administrativa, da base, na área do marketing, ninguém que está lá é remunerado, está fazendo por amor e nós vamos dar sequência dessa mesma forma ao trabalho que a gente vem fazendo. Correio da Bahia