Foto: Victor Ferreira / EC Vitória

O acesso do Vitória para a Primeira Divisão, confirmado com duas rodadas de antecedência, neste domingo, contra o Novorizontino, provou, mais uma vez, o quanto o futebol é imprevisível. Depois de um primeiro semestre desastroso, com eliminações na primeira fase de todas as três competições que disputou, ameaças de renúncia do presidente e reformulações profundas, o Rubro-Negro deu a volta por cima com uma campanha avassaladora na Série B.

Em poucos meses, o Vitória saiu do fundo do poço para uma grande, mas também surpreendente, campanha na competição, que vai muito além dos 20 triunfos, seis empates e somente nove derrotas. O Rubro-Negro é o melhor mandante, o segundo melhor visitante, dono do terceiro ataque e defesa da Segundona. Diante disso, o ge conta a trajetória do Leão em dez atos importantes para o sucesso.

1 – Início avassalador dá tom

Quem viu o Vitória ser eliminado de forma precoce do Campeonato Baiano e das copas do Nordeste e do Brasil, no primeiro trimestre, não esperava um início tão arrasador de Série B. Ao menos as quedas deram ao técnico Léo Condé, que chegou durante o momento de turbulência, uma intertemporada forçada que fez muita diferença.

Após contratações pontuais e certeiras e quase 40 dias de preparação, o Rubro-Negro venceu os cinco primeiros jogos, igualando Corinthians, Guarani e Náutico com melhor início na era dos pontos corridos da competição. Além disso, o time baiano não sofreu gols nesses cinco confrontos, um feito inédito.

A sequência começou com vitória em casa sobre a Ponte Preta, por 3 a 0, com gols de Zeca, Osvaldo e Rodrigo Andrade. No final, foram 15 pontos conquistados e saldo positivo de 13 gols.

Confira abaixo a arrancada 100% do Vitória:

  • ✅ Vitória 3 x 0 Ponte Preta | 1ª rodada da Série B
  • ✅ ABC 0 x 3 Vitória | 2ª rodada da Série B
  • ✅ Vitória 2 x 0 Londrina | 3ª rodada da Série B
  • ✅ Botafogo-SP 0 x 3 Vitória | 5ª rodada da Série B
  • ✅ Ceará 0 x 2 Vitória | 4ª rodada da Série B

2 – Tropeços e choque de realidade

Mas a magia inicial sofreu um duro golpe na sexta e sétima rodadas da Segunda Divisão, quando o Vitória perdeu em casa para o Atlético-GO, por 3 a 2, e sofreu revés diante do Mirassol, no jogo seguinte.

O 2 a 0 sofrido para o clube paulista, por exemplo, foi analisado pelo técnico Léo Condé como um jogo “bem abaixo” do que o Rubro-Negro estava acostumado a apresentar, além de ser um momento de “olhar para frente”.

A recuperação contra o CRB só se confirmou nos acréscimos, aos 51 minutos, com gol de Wagner Leonardo. A análise do ge sobre o jogo destacou a bola parada como salvação para um time com problemas no meio-campo.

3 – Versatilidade: os três zagueiros de Condé

Cheio de desfalques para enfrentar o Avaí, na nona rodada, Léo Condé apresentou uma novidade tática para ter sucesso em Florianópolis: a formação com três zagueiros.

Ao lado dos titulares Camutanga e Wagner Leonardo, João Victor foi escalado para dar solidez defensiva à equipe, que ainda ganhou fôlego no contra-ataque e saiu na frente. Na reta final do jogo, ficou claro que o novo padrão tático ainda estava “verde” com o empate dos mandantes em 1 a 1.

A formação também foi testada na vitória sobre o Tombense, por 2 a 1, e no revés diante do Juventude, que tirou o clube do G-4 pela primeira vez (equipe só ficou fora da zona de classificação em duas rodadas ao longo da competição). A maturidade, ou o auge, deste padrão de jogo só seria atingido algumas rodadas depois.

Primeiros jogos com três zagueiros:

  • 🤝🏽 Avaí 1 x 1 Vitória | 9ª rodada da Série B
  • ✅ Tombense 1 x 2 Vitória| 11ª rodada da Série B
  • ❌ Juventude 1 x 0 Vitória | 15ª rodada da Série B

4 – Contratações pontuais na 2ª janela

A reta final do primeiro turno foi importante para suprir possíveis carências do elenco. Para isso, o Vitória fez cinco contratações pontuais que mantiveram o bom nível de atuação do Rubro-Negro na competição. Desse grupo, os principais destaques são o volante Dudu e os atacantes Iury Castilho e Mateus Gonçalves.

Segundo o presidente Fábio Mota, ao todo, o Vitória gastou R$ 1 milhão para montar o elenco da Série B, que tem folha salarial de R$ 2 milhões.

Os reforços permitiram ao Vitória ter um elenco mais encorpado e preparado para todos os problemas de lesão (e foram muitos). Jogadores importantes, como o lateral-direito Zeca, o volante Rodrigo Andrade, o meia Giovanni Augusto e o atacante Osvaldo desfalcaram a equipe, que ainda assim manteve a regularidade na luta pelo acesso.

5 – Consolidação dos três zagueiros garante “título”

Em meio à chegada de reforços, o Vitória precisava estancar o cenário de oscilações. Para isso, Condé apostou novamente na formação tática com três zagueiros.

A decisão mostrou-se acertada porque o Rubro-Negro ganhou fôlego e teve uma sequência de cinco vitórias, uma derrota e um empate em sete partidas, iniciada na 17ª rodada, com o triunfo sobre o Novorizontino, por 2 a 1.

O ponto alto deste recorte é a conquista do título simbólico do primeiro turno, após a vitória sobre a Chapecoense, por 1 a 0. Com 37 pontos em 19 rodadas, o time baiano igualou o seu segundo melhor primeiro turno na era dos pontos corridos da Série B.

6 – Vitória sobre o Sport como divisor de águas

Mas o resultado positivo sobre o Sport, no primeiro turno, merece um destaque solo entre os dez atos mais relevantes do Vitória nesta Série B. O time pernambucano era considerado favorito no jogo, realizado no mês de julho, mas o Rubro-Negro baiano teve uma atuação madura, de muita tranquilidade e inteligência, para vencer por 2 a 1

Além de tirar a invencibilidade em casa do Sport e de retomar a liderança da competição nacional, o Vitória mostrou que estava pronto para qualquer confronto direto na briga pelo acesso.

7 – O Barradão como caldeirão

E não dá para deixar de destacar a força do Manoel Barradas para a campanha do Vitória. Já são 13 triunfos (e contando) do melhor mandante da Série B, que já vinha da campanha de superação na Série C do ano passado.

A torcida rubro-negra compareceu em peso e fez o Vitória ter a melhor média de público da Série B, com, aproximadamente, 22 mil pessoas por jogo. Tanto que o Leão “cansou” de bater recorde de público na competição. Só não deu para confirmar o acesso em casa, já que o time desperdiçou duas chances, contra Juventude e Vila Nova.

8 – Confirmação do 4-3-3

Foi contra esse próprio Botafogo-SP que Léo Condé definiu a formação tática para a reta final da Série B. O 3-5-2/3-4-3 foi útil ao longo da competição, mas era preciso uma nova atualização para evitar problemas.

O treinador, inclusive, confirmou a sua preferência pelo 4-3-3. A decisão de Condé, mais uma vez, foi sábia, e o Vitória ganhou um bom padrão de jogo em um momento crucial da competição.

– Não tem adversário fácil na Série B, dinâmica e dificuldade serão as mesmas. Não gosto muito de jogar com três zagueiros, porém a gente teve um momento que a equipe não estava se encontrando. Cinco jogos, quatro derrotas, tínhamos que buscar uma alternativa diferente. Conseguimos êxito contra o Novorizontino, depois contra Sport, então mantive. Claro, como falei, a gente tem que estar sempre se reinventando e tentando explorar o que tem de melhor dentro do grupo. Se a gente tivesse equipe sem problema de lesão, suspensão. A gente não muda de forma aleatória, tem motivo. Às vezes a equipe encaixa um bom jogo, em outros não. E a gente tem que estar sempre atento a isso, e é o que procuro fazer aqui no Vitória – disse na época.

9 – O acidente de percurso

O Vitória também teve os seus dias ruins. E bote “dia” nisso no massacre por 6 a 0 sofrido diante do CRB, no Estádio Rei Pelé, pela 27ª rodada. Em uma noite desastrosa do Rubro-Negro, o clube alagoano impôs a pior goleada em um líder na história da Série B.

A derrota provocou mudanças na escalação do Vitória, e alguns jogadores perderam espaço. Contudo, mais importante que isso foi a resposta rápida pela equipe, que venceu três jogos seguidos e rapidamente voltou aos trilhos.

10 – Ato final coroa campanha

Diante de uma campanha tão regular, o Vitória caminhou para alcançar o seu objetivo de forma soberana e sem dificuldade. Foi a “cereja do bolo” de um time que teve sim suas oscilações, mas de modo geral não deu margem para o risco. Não por acaso, é o único que só ficou duas rodadas fora do G-4 e o que mais tempo passou na liderança.

O jogo deste domingo, contra o Novorizontino, teve a cara dasta reta final, com o time um pouco abaixo do melhor rendimento, muitas vezes por conta da ansiedade pelo acesso. O Vitória começou mal a partida em Novo Horizonte e saiu atrás do placar. Mas buscou a virada com gols de Léo Condé e Welder, esse segundo já nos acréscimos.

Apesar do acesso garantido, a Série B ainda não acabou para o Vitória. Nos próximos dias o Rubro-Negro vai tentar confirmar o título da competição nacional. Ao menos Léo Condé e seus comandados vão ter a semana livre para se recuperar da festa deste domingo. O Leão volta para campo apenas às 17h de sábado (horário de Brasília), quando recebe o Sport, no Barradão. G1