Foto: Ricardo Stuckert

Líderes do Centrão alinhados com Jair Bolsonaro (PL) se irritaram com a afirmação de Lula (PT) no final de semana sobre “dar um jeito” no grupo e no orçamento secreto – método usado pelo governo para conquistar apoio político no Congresso.

“Se a gente ganhar, a gente vai ter que dar um jeito no Centrão, vai ter que mexer no orçamento secreto, vai ter que cumprir o piso da enfermagem, melhorar o piso dos professores”, afirmou o ex-presidente durante evento em Santa Catarina.

Esses caciques avaliam – em conversas com o blog – que a fala de Lula foi um recado mais contundente de que, se eleito, o presidente prefere atuar para esvaziar os principais líderes do Centrão, uma indicação que o petista já havia feito na entrevista ao Jornal Nacional.

No entanto, nos bastidores, diante da perspectiva de que Lula poderá voltar ao poder, parlamentares do Centrão passaram a sinalizar ao comitê de Lula que estariam dispostos a conversar no dia seguinte da eleição.

Apesar das sinalizações, antecipadas pelo blog nas últimas semanas, Lula, publicamente, reforçou críticas aos Centrão e ao orçamento secreto, como forma de enfraquecer o grupo.

O que mais irrita o Centrão no discurso do orçamento secreto é que, reservadamente, esses parlamentares afirmam que Lula terá dificuldades em revisar o mecanismo já que deputados e senadores de oposição também se beneficiam das emendas. Além disso, veem desgaste para os seus eleitorados, em suas bases, a maioria no Nordeste.

Por isso, caciques do centrão avaliam começar a questionar Lula publicamente a respeito de seus projetos em um eventual novo governo. Por exemplo, como pretende aumentar programa de transferência de renda além do Auxílio Brasil, entre outros temas.

A preferência do QG de Lula é formar uma espécie de “Centrão do B”, com parlamentares de esquerda e do União Brasil, MDB e PSD como sua base aliada no Congresso. Caso consiga formar esse bloco de apoio, o PT espera não ficar “refém” de caciques do Centrão.

O Centrão sabe disso. Por isso, trabalha para engordar sua base e se tornar indispensável – e maioria – no Congresso.

Os líderes do Centrão acreditam, ainda, que sob o comando de Lula, o Palácio do Planalto atue para estabelecer um rodízio no comando da Câmara e do Senado, que vigorou durante parte dos governos petistas. Entre 2007 e 2016, por exemplo, PT e MDB se alternaram no comando da Câmara dos Deputados.

No comitê de Lula, coordenadores do PT admitem que a ideia com rodízio das maiores bancadas – o que dependerá do resultado da eleição – está em discussão.

Para as lideranças do Centrão, a permanência de Lula à frente nas pesquisas eleitorais Ipec e Datafolha tem deixado ex-presidente confiante na vitória, a ponto de ele começar a falar mais abertamente sobre sua agenda econômica.

Durante entrevista em Montes Claros na semana passada, por exemplo, Lula citou os entregadores por aplicativos e sinalizou mudanças na legislação trabalhista. Também levou ao programa de TV essas sinalizações.

A 15 dias da eleição, uma coisa é certa para o Centrão: o teto de gastos será revisto, mas não extinto. O discurso começou a ser esboçado nos bastidores diante da possibilidade de uma vitória do PT. O Centrão, que se diz conservador e liberal na economia, não quer mudanças em reformas aprovadas, como a trabalhista, mas sabe que o PT, se eleito, vai propor uma atualização das regras.

Fator Zema

Na campanha de Bolsonaro, assessores admitem que não há mais “bala de prata” a tempo de mudar bruscamente o cenário daqui até a eleição.

A expectativa, agora, é pelo segundo turno e apoios de governadores que vencerão no primeiro turno, como Romeu Zema (Novo).

Zema, que lidera a corrida segundo as pesquisas Datafolha e Ipec, tem evitado associar sua imagem à de Bolsonaro e não declarou apoio explicitamente até aqui. Segundo o Datafolha, no estado, Lula lidera com 43% a 33% do adversário.

A expectativa do QG de Bolsonaro é que, se Zema liquidar a fatura no primeiro turno, declare apoio explícito ao presidente num eventual 2º turno da disputa presidencial com objetivo de desequilibrar a disputa no segundo maior colégio eleitoral do País.